052 | É simples, só não é fácil: ou o porquê o jogo da vida é um jogo interno
05 Maio, Dubai 2023
Escrevo essa carta depois de uma noite muito mal dormida, com a forte sensação de ainda estar de jetlag - apesar de tempo demais já ter passado e essa desculpa não ser mais válida - e depois de 2 lattes fortes. Me sinto cafeína e pronta pra dominar o mundo!
Hoje durante minha sessão na academia fiquei pensando sobre o processo de mudança do meu corpo. Eu sinto (e vejo) meu corpo mudando e isso me faz sentir uma myriad de sentimentos complexos, dos quais eu estou digerindo para ser honesta.
Já comentei aqui, mas essa é a primeira vez que eu estou passando por um processo de transformação no meu corpo por vontade própria. Todas as vezes que eu perdi - ou ganhei - peso, foi de maneira involuntária, normalmente em momentos de grande tensão emocional, como nos meus primeiros episódios de ataque de pânico em 2017, onde perdi quase 10kg em um mês.
Em tese, em um corpo em estado normal, a lógica e processo de transformação do corpo é mais ou menos linear. Se você se movimentar e gastar mais calorias do que você ingere, você vai perder peso. Se você não se movimentar muito e ingerir mais calorias do que você esta gastando, você ganha peso. Simples.
Mas, viver esse processo que - em teoria - é linear, nos mostra como que coisas podem ser simples no papel, mas não são fáceis na vida real.
Claro, isso é só um exemplo. Mas, ao observar minha vida, percebo que existem uma série de coisas que são simples mas que por alguma razão, não são fáceis. Antes de dormir, consigo fazer uma lista de atividades para o dia seguinte. Ao acordar, nem sempre consigo seguir a lista e fazer tudo que eu me programei.
A vida acontece, distrações, auto-sabotagens e bem… o que era simples deixa de ser, lentamente, possível.
A simples ideia de ir para cama num horário bom é muito simples. Eu olho no relógio, percebo que é hora programada, caminho até a cama, entro, me cubro e fecho os olhos. Ledo engano. O que era simples deixou de ser simples quando a Netflix lança uma nova série de Bridgerton. E aí… já sabe - deixa de ser possível rapidinho. E sim, não sou a pessoa que mais assiste série e filmes no meu dia a dia, mas não sou feita de ferro - sou bem humana e gosto de um romance de época, confesso.
Ou, a ideia de estudar fora do Brasil. Em teoria, escolhemos o que queremos estudar, a faculdade, procuramos bolsas de estudo… e aplicamos. E tentamos. Até dar certo. Ah, se eu ganhasse um real por casa história que eu ouvi de pessoas querendo coisas, mas nem aplicando ou tentando. Vocês já sabem dessa história.
Qual a quantidade de coisas na nossa vida que conseguimos traçar - e viver - a linha clara entre ideia e execução?
A própria ideia de estudar fora é razoavelmente simples:
→ (0) Autoconhecimento: Porque eu quero estudar fora? Como que eu vou usar isso? Quais minhas expectativas? Porque estou alocando meu recurso de tempo para isso? O que eu espero ganhar disso?
→ (1) Entender o que eu quero estudar: qual área, que tópico - que vai me ajudar a completar item 0.
→ (2) Entender onde eu quero estudar: qual país, qual faculdade, qual programa, com qual professor - que vai me ajudar a completar item 0 e 1.
→ (3) Entender o que eu preciso: pré-requisitos, bolsas de estudo, vistos, data de aplicação, documentos necessários - que vão me ajudar a completar item 1 e 2.
→ (4) Preparação: datas de processos, preparar documentos, falar com quem já conseguiu, pegar dicas, pesquisar mais sobre o corpo de professores - que vão me ajudar a completar item 3.
→ (5) Aplicar pro processo seletivo da melhor maneira: com estratégica e preparação para conseguir os itens anteriores.
→ Se conseguiu item 5: ir.
→ Se não conseguiu item 5: volte algumas casas e tente de novo - entendendo o que deu certo e corrigindo o que não deu certo.
Agora eu te pergunto, quando saímos da teoria… isso parece fácil?
Quantos realmente se permitem entrar no passo zero, de se permitir querer o que se quer e realmente ir atrás para fazer isso acontecer?
Todos os dias eu vejo pessoas me perguntando sobre o mundo externo, já querendo saber do item 2, 3, 4 e 5, sem nem ter ideia do passo 0. Sem realmente se fazer perguntas mais completas internas do porquê elas querem o que querem, ou pelo menos, o que elas pretendem tirar disso.
Ao pular etapas, percebo que muitos não tem força de transformar o simples em… possível. Em algo que vai apenas pedir determinação e resiliência (com muita estratégia e mentores no caminho, espero - pra ajudar).
Ao pular etapas, nos movemos de maneira lenta na vida, com listas de atividades nunca terminadas, numa espécie de piloto automático sem fim. O que era pra ser um dia mais lento, se torna uma semana mais lenta, um mês mais lento e bem, uma vida mais lenta. Sem rumo.
Sem entender o porquê. O cerne. O centro.
Sem entender a razão que nos fará nos mover pela vida com a força e com a vontade que transforma o simples em real.
Fácil? Provavelmente não.
Mas,
se fosse fácil…
já estava feito.
Suas cartas diárias são inspiradoras. Sua escrita é tão fluída e deliciosa.
É com certeza um dom, uma luz que você tem.
Gratidão