Escrevo essa carta diretamente de Paris, onde estou participando de vários eventos, inclusive o Metaverse Summit que aconteceu no último final de semana.
Há vários meses ao lermos sobre tecnologia e negócios nos deparamos com essa ideia de metaverso e o futuro das interações humanas. Mas, para muitos, ainda não é claro o que exatamente é o metaverso, como funciona e as possíveis implicações na vida de todos.
Afinal, o que é o metaverso?
De maneira simples, o metaverso é um mundo construído virtualmente, para que pessoas possam interagir entre si de maneira mais imersiva, permitindo que pessoas tenham um avatar (representação digital de si mesmo) capaz de viver, trabalhar, jogar, construir e muito mais.
É importante notar que o termo não se refere exatamente a um tipo específico de tecnologia, mas sim em como interagimos com as novas tecnologias e como as utilizamos nas nossas vidas. Essa imersão prometida dentro do metaverso pode acontecer de maneira diferentes, com o uso de realidade virtual (VR) principalmente, mas também com o uso de tecnologias para realidade aumentada (AR), conexão de internet de alta velocidade, e mais.
Muitos acreditam que o metaverso representa o futuro da internet. Mas, o metaverso ainda não existe - pelo menos não plenamente. Estamos falando da ideia do que o futuro de tecnologias pode vir a ser, mas ainda não é.
Peço que você pense em dois cenários.
No primeiro, você coloca óculos de realidade virtual (como o Oculus) e a partir daí tem acesso de maneira imersiva a espaços virtuais onde você pode interagir com outros participantes também conectados com a mesma tecnologia. Nesse espaço, você pode participar de reuniões de trabalho, aulas da faculdade e mais ao observar e interagir com outras pessoas também utilizando os óculos. É um espaço completamente novo, totalmente construído virtualmente com a tecnologia de VR (Virtual Reality).
No segundo, você está sentado no seu escritório e coloca um óculos especial que te mostra uma realidade aumentada do seu escritório já existente. Para ficar mais fácil de entender, pense no jogo do Pokemon Go, que ao apontar a câmera do seu celular, você consegue ver o ambiente já existente, mas com um Pokemon inserido ali através da tecnologia de AR (Augmented Reality).
Os dois cenários podem ser considerados uma evolução da internet, já que não dependemos apenas das telas de computadores e celulares e começamos a ter uma experiência muito mais imersiva para realizar as tarefas que já fazemos online (nos inteirar dos acontecimentos, interagir com amigos, comprar objetos, realizar tarefas, etc). Sendo assim, o metaverso não é um competidor da internet, mas sim, construído a partir dela.
Porque as empresas querem construir seus metaversos?
Há diferentes maneiras de responder essa pergunta, mas acredito que podemos focar nas motivaçõess óbvias: oportunidade e dinheiro.
Vivemos em uma sociedade de hiperconsumismo. Empresas que vendem roupas, por exemplo, podem se interessar na existência de um metaverso, já que além de venderem roupas para você no mundo normal, elas poderão oferecer uma diversa gama de opções para seu avatar. E ao pensarmos na manufatura de roupas (chamadas de skins em alguns jogos) que não precisam ser confeccionadas, não precisam de tecidos de verdade e nem de mão de obra, a oportunidade da venda de objetos virtuais se torna uma mina de ouro facilmente escalável.
Outras empresas estão criando lotes de terra no mundo virtual e vendendo esses lotes por um preço alto para empresas e desenvolvedores que querem construir seus próprios espaços virtuais dentro desses mundos já parcialmente construídos. No evento que eu participei houve uma discussão fervorosa sobre o significado disso tudo. No mundo real obviamente há um limite de espaço físico disponível, mas no mundo virtual não. Sendo assim, a ideia de construir lotes de terra “limitados” em um mundo que tecnicamente não tem limite é apenas a construção de um limite de oferta superficial. Fica aí uma reflexão para você.
Há também, claro, oportunidades de uso da tecnologia para melhorar o ensino, novas formas de gaming, ampliar a acessibilidade a diferente temas e muito mais. As aplicações são quase infinitas.
Mas quem constrói o metaverso?
A corrida pelo domínio do metaverso já começou, e atualmente já existem dezenas, talvez centenas de empresas construindo suas próprias versões do metaverso. A mais notável de todas é o Facebook, que até mudou seu nome para Meta, na tentativa de ser o pioneiro a construir uma plataforma que eles acreditam que a será adotada pela maioria no futuro.
Hoje, os maiores exemplos de plataformas já consideradas como metaverso são decentraland, stageverse, sandbox e muitos outros. Vale apontar que muitos desses exemplos utilizam a tecnologia de blockchain como o decentraland e o sandbox, apesar de isso não ser exatamente um pré-requisito.
Mas, o que isso significa e o que é um metaverso já existente?
Vou começar com o exemplo do sandbox, um dos metaversos mais conhecidos.
O Sandbox é um jogo construído em um mundo virtual dentro da blockchain Ethereum. Nesse jogo, os jogadores podem construir, possuir e monetizar suas próprias experiências no jogo usando NFTs e o token (moeda) próprio do jogo.
Calma. Vamos por partes.
O jogo ser construído dentro da blockchain Ethereum significa que todas as informações e transações que acontecem no jogo são autenticadas por uma blockchain, que tem como função armazenar esses dados de uma maneira incorruptível. Sendo assim, se eu mando um item para um amigo meu dentro desse metaverso, isso fica registrado no sistema de uma maneira que ninguém consegue mudar. Além disso, essa transação fica pública para que todos possam ver no sistema. Assim, tudo que acontece no jogo fica registrado de maneira aberta e incorruptível.
Agora, quando pensamos em NFT (non-fungible tokens) pensamos em como tornar todos esses itens únicos. Se o jogo envolvesse lutas e todos os jogadores possuíssem uma espada, a fim de manter todas as transações autenticadas no jogo, cada espada teria que ser única. A existência de NFTs em plataformas de blockchain permite isso, que cada espada tenha um número especial e seja única dentro do jogo - mesmo que elas possam ser visualmente iguais no jogo.
Voltando para o Sandbox. Nesse jogo, você pode criar seus próprios elementos. Se você decidir criar uma espada de fogo única, você tem a possibilidade de fazer isso dentro do Sandbox. Além disso, o jogo também permite que venda ela para outros jogadores dentro do seu marketplace próprio. Por último, o próprio jogo permite que você crie novos jogos dentro de sua plataforma também.
Mas, é importante pensar em algo sobre o sandbox e outros metaversos: os lotes de terra! Para que você possa construir seu próprio jogo e experiência, você precisa ser dono de “um pedaço de terra”, que no caso do sandbox tem um limite de 166,464 lotes, que compõe o espaço virtual do metaverso Sandbox.
Outro metaverso existente é o decentraland, que tem um modelo parecido com o do Sandbox com um terreno virtual que você pode explorar os projetos já existentes, ou você pode comprar um desses lotes virtuais e criar seu próprio projeto. Dentro da decentraland, por exemplo, você encontra a decentraland university, localizado no distrito educacional, onde você pode participar de eventos.
Esses metaversos mostram o novo paradigma onde as experiências poderão ser construídas de consumidor para consumidor, algo diferente de quando compramos um jogo no mercado, que foi totalmente desenvolvido por uma única empresa. Esses dois exemplos também mostram uma tendência forte, onde muitas pessoas querem consumir projetos que não venham das grandes empresas. O futuro mostrará se o metaverso da empresa Meta (antigo Facebook) realmente se transformará no mais utilizado por todos.
Esses exemplos também mostram o início de um novo modelo de negócios, que envolve diferentes maneiras de faturamento, que hoje muitos chamam de metanomics.
Quantos metaversos existirão?
Ao pensarmos no metaverso como uma evolução da internet e ao já vermos empresas construindo suas próprias experiências, fica a pergunta: quantos metaversos existirão?
Bom, o objetivo principal é que exista apenas um - assim como a internet. Hoje, você se conecta online e pode entrar em sites, baixar aplicativos e muito mais dentro de uma experiência única de abrir seu computador/celular. Sendo assim, hoje um dos principais desafios dessas empresas é garantir a interoperabilidade. Em outras palavras, garantir que os diferentes metaversos possam conversar entre si e que o usuário possa circular livremente entre esses diferentes espaços.
Uma espécie de mar metaverso com diferentes ilhas. No metaverse summit em Paris que eu participei, o founder de uma empresa de metaverso comentou que o objetivo era a criação de um espaço como no filme Ready Player One. Álias, se você não conhece, indico que você veja o trailer abaixo.
Isso ainda se apresenta como um desafio enorme. Não só por questões técnicas até de regulamentação, mas também por questões de cooperação. Com tantas empresas vendo o metaverso como uma oportunidade de aumentar seus ganhos, a ideia de empresas como o Meta e Apple dividindo o mesmo espaço apresenta problemas óbvios de interesse.
Porque o metaverso deveria importar para você?
A existência de espaços virtuais onde podemos realizar tarefas mundanas não é exatamente algo novo. Já construimos casas no jogo Sims há anos. Mas, o metaverso representa uma mudança de paradigma. Não só na profundidade de interação que realizaremos as tarefas dentro do metaverso, mas também sobre a oportunidade de ownership - algo extremamente discutido dentro do mundo de web3 e que comentarei mais no futuro.
Se antes, ao jogar Mario Kart você ganhava moedinhas de ouro que tinham valor apenas dentro do jogo, hoje há uma mudança completa de modelo, onde já existem jogos que essas novas “moedinhas de ouro” ganhadas em um jogo podem ser trocadas por dinheiro no mundo real. O famoso play-to-earn.
Se antes poderíamos criar bonecas virtuais e as vestir com diferentes roupas, em um futuro próximo essas bonecas representarão nossos avatares e suas roupas farão parte da nossa identidade online e serão artigos que pertencerão a nós e que possuirão um valor monetário. Já pensou na possibilidade de existir um enjoei só com roupas do nosso avatar no metaverso?
O metaverso não vai apenas representar uma mudança em como interagimos com outras pessoas online, mas também uma mudança econômica do que possuímos e até do que vemos como investimentos. O que para muitos ainda é uma noção distante de ver uma imagem .jpg como um ativo monetário, para outros já é uma realidade lucrativa.
O futuro com metaversos representará também uma mudança em padrões de consumo, abrindo a porta para o surgimento de muitas profissões que ainda não existem e de novas maneiras de aprendizado. Mas, também, pode representar um risco para o agravamento de situações que já vemos acontecer online como bullying e stalking.
A verdade é que o futuro do metaverso ainda é incerto.
Por mais que várias empresas estejam investindo milhões de doláres no desenvolvimento da tecnologia necessária, o uso de metaversos ainda é limitado a poucos usuários e a ideia de adoção das massas muitas vezes parece distante.
E você, o que pensa sobre metaverso e o futuro?
Coloque abaixo seus comentários e dúvidas, vou fazer meu melhor para responder tudo!
Ainda é novo p mim...Mas sempre disposta a aprender! Obrigada pelas informações...
Wow! A mente humana realmente não tem limites. Sempre expandindo nossos horizontes com suas cartas, gratidão Ana!