Escrevo essa carta da minha escrivaninha que há alguns dias eu coloquei no meio da minha sala, onde era minha mesa de centro. Decidi centralizar meu espaço para finalmente voltar a escrever mais - tanto por aqui, quanto no geral.
Não vou mentir, já sinto umas leves lágrimas prontas para dar o ar da graça por aqui. O que eu sinto ao sentar, e permitir meus dedos deslizarem pelo teclado é algo único, bonito e tão, tão pessoal. Íntimo. Verdadeiro.
Acho que já escrevi sobre isso e sendo sincera não lembro o que eu falei, mas há mais de um ano que eu não consigo mais me conectar tanto ao escrever por aqui. Houveram alguns momentos de conexão, faíscas que pareciam fortes, mas que não duraram muito. Não lembro quais conclusões pessoais que eu cheguei sobre isso no passado, talvez falta de tempo, talvez falta de priorização.
Hoje, vou falar sobre inspiração que vem de fora. O olhar e a fala de alguém que toca teu coração e faz movimentos simplesmente acontecerem de dentro pra fora, uma reação química. A coisa mais natural do mundo. Alguns pintam em telas, eu conecto letras tentando transbordar o que há dentro de mim. E hoje, num mundo onde uma inteligência artificial pode criar tudo isso num piscar de olhos, ainda tenho esperança que quem quer que leia essas palavras sinta meu coração pulsando entre essas linhas. O resultado desse contato, dessa energia, esse transbordar que nem sempre faz sentido, mas que continua a teimar a sair, a dividir, a somar e tantas coisas mais.
A verdade é que em 2023 e 2024 eu criei e dividi muitos textos apenas para uma pessoa, que hoje entendo que mal os lia. Pelo menos não com os olhos que eu precisava. Que eu merecia. Tanta energia, tanta vontade de conexão, tanta vontade de dividir o que eu tinha escondido aqui, dentro de mim, que eu só conseguia demonstrar por frases, parágrafos, ideias… mas tão pouco retorno. Uma verdadeira tragédia.
Potencial desperdiçado. Insistência e… silêncio do outro lado da linha. Parágrafos e parágrafos. Transbordar. E poucas linhas na minha direção.
Fome. Espiritual. Emocional.
Com o tempo, comecei a me fechar. Talvez tenha sentido que esse transbordar já não era mais tão bem-vindo. Necessário. Parei de sentar em frente ao computador para ter esses momentos. Para permitir. Para me sentir tão viva. Já não me sentia mais assim. Quando comecei a me sentir não vista, comecei a desaparecer.
A vida tem dessas. Algumas pessoas talvez não conseguem nos ver. Não de verdade. A mensagem não chega do outro lado. Mas sei que isso não significa que o que foi enviado não tem valor. Mas sei também, que as vezes precisamos de lembretes disso. De pares de olhos na nossa direção que sentimos e sabemos que está vendo exatamente a verdade. Imperfeita, sim. Mas tudo que é humano tem tanto valor.
Hoje, tive um par de olhos voltados na minha direção. Olhos antigos, de outros carnavais. Olhos que me conhecem bem. Uma das melhores pessoas que eu já conheci na vida. Um homem que no momento mais bêbado da sua vida olhou para mim e me disse algo inesquecível: “Ana - porque você não consegue entender que você é maravilhosa?”
E ao ter essa atenção de um amigo antigo, senti novamente o brilho. O movimento. A vontade de escrever, de sentir meus dedos tocando esse teclado. De permitir o transbordar que ainda teima em querer acontecer.
E é aqui que eu me sinto viva. Que eu me sinto eu mesma. Que eu me sinto satisfeita. Espiritual. Emocional. Coração batendo forte. Vida emanando.
E resolvo passar a diante. Agora meus olhos estão em você. Que por algum milagre cósmico entrou na minha vida. Talvez eu te conheça bem, talvez eu nunca tenha te visto.
Mas, vejo em você reflexos de mim.
Sonhos. Vontades. Medos.
Fé.
Temos valor. Temos um coração teimoso. Corajoso. Que teima em bater e que não desiste. Que você sinta essas palavras e você transborde do seu jeito.
Hoje essa carta é para você que sempre me viu.
E hoje,
eu te vejo também.
i see you ❤️