Posto essa carta atrasada, já de Dubai, mas ela foi escrita ontem, do centro de Barcelona.
Os últimos foram como um tornado do passado vindo na minha vida. Não importa para onde eu olhasse, eu via rastros de memórias que já se foram, lugares que já foram visitados e um pedaço de vida construída que já passou. Me vi de frente com a antiga Ana, da qual pedaços ainda formam a Ana que eu sou hoje.
Andar por essas ruas preenche meu coração de uma maneira que eu não vou conseguir colocar em palavras aqui. Representa não só um sonho realizado, mas a concretização de uma vida sonhada por muito, muito tempo.
A primeira memória que eu tenho de Barcelona é de mais de uma década atrás, quando amigas próximas foram a turismo e eu não consegui ir - por uma questão financeira mesmo. Lembro de ver as fotos e ficar pensando se um dia conseguiria ir pra lá, e finalmente ver o parque Güell e outros pontos da cidade.
Acelera para 2021, quando eu comecei a minha chamada Tour Mundial e fiquei nômade por quase 2 anos. Nesse meio tempo, passei quase 1 mês em Barcelona no final de 2021, numa época tão especial da minha vida. Uma época de muita busca por cura e desenvolvimento. Tenho tantas memórias desse tempo. Lembro do frio, de eu andando pela cidade, de eu buscando uma conexão com Deus, de eu chorando na praia, de eu me sentindo solitária e de eu tentando fazer sentido a tantas questões da minha vida.
Foi uma época tão importante pra mim na minha vida. Foi também uma época onde uma única noite mudou tudo. Um jantar, com minha amiga e mentora, Larissa Mansur. Nós - que nunca bebemos - compartilhamos uma garrafa de vinho e já muito mais lá do que pra cá, ela me chamou para uma viagem de mais de um mês para o México (que começaria em menos de um mês). Pois bem, eu aceitei. E o resto… bem história para outra carta. Mas foi essa viagem para o México que começou a mudar tudo para melhor e onde o céu finalmente se abriu e a tristeza do meu último relacionamento começou a ficar pra trás.
Eu guardo Barcelona com muito carinho. E ouso dizer que conheço a cidade bem, já que todos os dias eu caminhava por horas pelas ruas da Cidade Antiga e Barceloneta. E bem, eu finalmente pude voltar. Para essa cidade que eu guardo tanto no meu coração. E voltei da maneira mais curiosa de todos: para celebrar a despedida de uma amiga que é metade de UK, metade da Líbia e que eu conheci na Coreia do Sul.
Bem ao estilo Relações Internacionais, do jeito que eu gosto.
Quando me dei por mim, estava caminhando por Las Ramblas com um grupo de novas amizades e ao lado da Nadia. Ah, nossas histórias juntas dariam um livro. Ou talvez uma série. Cheia de histórias hilárias de Seoul, muitas baladas, comida e aventura.
Conheci a Nadia quando fiz meu primeiro Summer Program na Coreia do Sul. Amizade quase instantânea. Em 30 dias em Seoul, fomos para a balada 13 vezes. Sendo que tínhamos aula todos os dias de manhã e o nosso dormitório tinha curfew, onde não podíamos voltar entre a meia noite e as 5h da manhã. Seguidamente voltávamos da balada, tomávamos banho e íamos para a aula. Nem ideia de como sobrevimos um mês inteiro sem dormir. Mas sobrevivemos. Cheias de histórias para contar.
Sabe, quando eu fui em 2015 pra Coreia pela primeira vez, eu não tinha uma brasileira como amiga ou no meu círculo. Apenas as pessoas da faculdade comigo, que eram de vários países diferente. Ali, fiz amigos pela primeira vez de Singapura, México, UK, Alemanha e mais. Me conectei com pessoas que ainda fazem parte da minha vida. Como a Nadia. Mas, nossa história é especial. Quando voltei, em 2016 pro meu MBA, Nadia também voltou para fazer 1 ano de intercâmbio pela mesma universidade. Ali estava nossa oportunidade de fazer ainda mais memórias pelas ruas de Seoul. E foi exatamente isso que fizemos.
Eu vi a Nadia começar a namorar (agora seu futuro marido) e vi a distância ela se tornar uma adulta. Comprar apartamento, trabalhar e construir uma vida. Ao ver nós duas de volta para a pista de dança em Barcelona, fiquei feliz em ver que o que importa de verdade não mudou. Nossa felicidade de dividir momentos e celebrar a vida.
Que sorte a minha ter construído amizades assim pelas minhas andanças pelo mundo, onde eu posso encontrar amigas tão incríveis pelo mundo para celebrar novos passos sendo dados. Eu sempre imaginei uma vida assim. E agora eu vivo ela. Nessa cidade tão linda, tão rica e que tem tanto poder na minha vida.
Os dias de solidão por Barcelona se foram. Hoje, vejo tantos sonhos realizados desde então, amigas incríveis ao meu lado e sinto um orgulho gigantesco. De mim, por não ter desistido dessa vida. E pela Nadia, por estar dando esse passo tão lindo, comigo ali do lado. E em breve, com o casamento também.
A gratidão grita no meu peito.
Como a vida é generosa. Como que eu cheguei até aqui? Com essas amizades? Essas memórias? Essas oportunidades?!
Agradeço baixinho. Mais uma vez.
Ah, Barcelona. Como você é incrível.
Que poder você tem.
Aaaah, Ana! Como é bom ler as suas cartas! A maneira como você escreve é quase mágica; consigo visualizar as cenas através das suas palavras. Esta carta era exatamente o que eu precisava ler e me conectar hoje! Gratidão por estar presente em tantas fases da minha vida. A sua presença, através das cartas e da mentoria, é um lembrete de que a vida sempre pode ficar melhor!