138 | Novembro mágico, COP28, minha caverna & Dezembro Extraordinário
16 Dezembro, Dubai 2023
Começo a escrever essa carta do meu café favorito em Dubai, com uma das mãos enfaixadas - taí algo que eu nunca falei antes (e a termino com a mão não enfaixada). A carta de hoje foi uma escrita em pedaços, algo não comum em mim, mas os últimos dias não tem sido comuns mesmo.
Sabe, os últimos dias tem sido incríveis, mas também desafiadores de diferentes maneiras. Tanta, mas tanta coisa aconteceu nesses últimos dias e tenho tanto pra dividir - mas ao mesmo tempo não sinto uma vontade avassaladora de escrever sobre isso. Contradições. Ou, contrações. Nas últimas semanas me sinto contraída. Um pouco mais tímida. Talvez seja uma resposta natural. Animais machucados tendem a se contrair. Se expor menos. Afinal, estão um pouco mais indefesos.
Novembro se mostrou mágico, mas desafiador. Assim como outubro foi. Sabe, o final desse ano não tem sido linear e definitivamente não tem sido como eu imaginei que seria. Na verdade, está sendo bem diferente e precisei aprender a lidar com isso. Minha mão enfaixada acho que mostra um pouco disso. O abismo entre expectativa e realidade.
No final do mês, pude começar a participar da COP28, que está sendo uma oportunidade única para aprender, dividir, expandir e muito mais. Mas, é também, desconfortável - ver onde o mundo está e para onde ele está indo me desafiou de maneiras que eu não esperava. Sem falar que estou de frente com muitas contradições que é o Oriente Médio, uma economia focada em petróleo e todas as questões complexas que é ter uma Conferência das Nações Unidas em Mudanças Climáticas realizada aqui. Contudo, também me sinto inspirada ao me ver cercada de tantos jovens brasileiros que vieram pra cá representando a sociedade civil e que estão realmente trabalhando pelo o que acreditam, a favor de suas comunidades e estão dando um show de ativismo.
Quando dividi o que eu estava sentindo com uma conhecida ela me falou que eu estava vivendo uma “catarse climática”. Não sei bem o que isso significa, mas definitivamente concordava com a parte da catarse. Houve dias que eu me senti como se eu tivesse sido atropelada por um trator. Sem energia. Esgotada. Precisando de ajuda. Assim como nosso planeta, infelizmente.
Mas, em sua própria maneira novembro foi mágico. Não o tipo mágico feliz filme de Natal com final feliz, mas um tipo único de mágico. Sabe, eu não posso reclamar. E mesmo se eu pudesse, eu não faria. Reclamar custa caro demais e não ajuda em nada. Foi como foi, e eu não sou o tipo de pessoa que pensa no passado com vontade de mudar ele. Estou mais interessada no que tem na minha frente, a minha espera.
Nesse meio tempo ainda quase fui para o Egito participar de um evento que, hoje, considero uma mini farsa. Estou aliviada em não ter ido e ter seguido minha intuição. A nossa intuição sempre sabe - não adianta. E eu aprendi muito tempo atrás a não brigar com ela e a seguir ela. Sabedoria, talvez.
Já estamos no meio de Dezembro e ele tem sido desafiador de sua maneira também. Mas, também tem sido muito útil. Sabe, eu sou uma pessoa que trabalha melhor sob pressão de deadlines - como todo mundo, eu acredito. Esses últimos dias do ano tem me feito ir atrás de algumas coisas que eu tinha me comprometido de fazer em 2023 e meus níveis de produtividade tem aumentado consideravelmente. Sinto orgulho de mim. Mesmo com uma mão enfaixada e um dedo ainda meio estranho, sou capaz de sentir que estou avançando em direção aos meus sonhos e objetivos. No silêncio. De baixo do radar. Sozinha, com meu computador e muitas horas de trabalho. Gosto disso.
Ainda tem metade do mês pela frente e tudo pode acontecer. Rezo pra algumas nuvens internas abrirem e o sol sair. Preciso de mais energia. Uma nova mentoria vêm por aí e tenho um sonho ousado pra ela. Também quero meu dedo recuperado. Minha saúde plena. Quero meu coração em paz. Mas, também - como sempre - agradeço muito.
Minha mente não para e ela está me levando a novos lugares, novos horizontes, novos sonhos e novos projetos. Sinto um orgulho genuíno de mim. Terminei há poucos dias o workshop O Jogo da Vida e mandei aúdios diários para quase 100 pessoas por um mês, com exercícios diários. Eu sempre quis fazer isso. E eu fiz. Em 2023. Sinto um alívio imediato. Mais um pequeno sonho que virou memória. Desejo escrever mais. Tanto essas cartas pessoas, mas quero escrever coisas mais técnicas, ferramentas para que as pessoas possam aplicar em suas vidas. Escrever sobre os livros que eu estou lendo. O que eu estou aprendendo. Dividir mais.
Ao mesmo tempo que eu sinto que há tanto para dividir, também sinto vontade de entrar em minha caverna, com meus mentorandos e ir a fundo com eles em tudo que eu sei. Com a nova turma de mentoria prestes a abrir, sinto um misto de emoções.
Quero mais mentorandos, quero ajudar, quero ajudar novas pessoas a mudarem suas próprias vidas e viver seus sonhos, mas também quero me esconder. Me sinto exposta. Tenho um pouco de medo. Acreditem ou não, ainda não me sinto totalmente confortável no centro do holofote e bem, lançamento de mentoria me obriga a fazer exatamente isso. Tentar mostrar para desconhecidos que eu tenho algum valor e que eu posso ajudar. Tenho dificuldades de traduzir para os outros uma certeza absurda interna que eu tenho, de que eu posso ajudar.
Cobrando por isso. E não é barato. Mas, as coisas são como e eu tento ter paz com isso. E eu sou teimosa. Já tentei fazer muitos eventos gratuitos e poucos que realmente dão valor. É humano. Damos valor para coisas que pagamos. De graça tem valor… bem, zero. Mesmo quando eu coloco meu coração e dou tudo de mim em eventos gratuitos. Os poucos que vem valor e que fazem algo com aquilo se tornam eventualmente meus mentorandos. Porque eles viram o resultado e querem mais. Parece errado falar isso, mas eu vejo com meus olhos: quanto mais eu cobro, mais resultados as pessoas tem. Elas valorizam mais. Elas querem mais. A mudança. Pagar o preço do desconforto para viver seus sonhos. Eu sou apenas um veículo, uma ajuda, uma caixinha com muitas ferramentas. Elas que mudam suas próprias vidas.
Mas, eu disse, sou teimosa. Não consigo deixar de fazer eventos gratuitos e de fazer muita coisa gratuita. Acho que esse espaço mostra isso. 138 cartas gratuitas. E contando. Nesse ritmo, ano que vem chego em 200.
Me pergunto: será que um dia chegarei a 1000?
Tomei uma nova decisão que vou divulgar mais detalhes em breve. Resolvi fazer o Debriefing 2023 e o Materializa 2024, meu projeto de encerramento do ano e planejamento do próximo de graça. 0800. Ano passado eu cobrei 500 reais por ele. Esse ano ele está ainda melhor. Me pergunto, de verdade, quantas pessoas de fato vão valorizar e terminar todo o material que eu estou fazendo sem ter pago 1 real por ele. E mais uma vez eu resolvo testar a realidade. Não tenho dúvidas que muito começaram, mas quantos terminarão? Quando eu cobro, eu consigo ver nos olhos das pessoas, elas pagaram seu suado dinheiro por aquilo e elas vão tirar o máximo daquilo. Principalmente quando envolve a decisão de mudar e fazer algo. Gastar energia. Somos feitos para conservar energia. Quando pagamos por algo, o dinheiro vira um motivador grande. Afinal, investimentos naquilo e precisamos de um retorno. Nos obrigamos a fazer algo a respeito. Dinheiro move o mundo, eles dizem.
Não sempre. Mas, muitas vezes. Muitas vezes.
Tecnicamente não estou perdendo dinheiro com essa decisão, mas estou deixando de ganhar. Vejo com um presente de Natal que estou dando pra mim mesma. Acredite ou não, fazer isso me faz feliz - muito feliz. Como explicar pras pessoas que ser mentora e fazer tudo que eu faço é o que faz com que eu me sinta eu mesma? Que eu estou onde eu deveria estar? Que é isso que eu sou? E eu quero fazer o melhor evento de Debriefing e Materializa da minha vida. Mas não tenho forças emocionais de vender ele e a próxima mentoria ao mesmo tempo. É difícil pra mim. Não tenho esse estilo agressivo de cobrar por tudo que talvez eu deveria ter. Mas faço as pazes com isso. Feliz Natal, Ana.
Respiro fundo.
Hora de sair da toca.
Ano quase acabando, mas há muito ainda a ser feito. Muito ainda para se tornar memórias de 2023, e não atividades para 2024. Hora de dobrar as mangas.
Dezembro já é extraordinário. Mas, sei que posso contribuir para que ele seja ainda mais. Hora de dividir um pouco da mágica.
Vem coisa boa por aí.