Escrevo essa carta de um dos meus cafés favoritos, depois de 2 lattes que não resolveram completamente a minha questão do sono - hoje será um dia longo.
A carta de ontem foi curta e direta. Eu sentia raiva. Foquei em digerir esse sentimento e também em entender de onde ele vinha. Sabe, nossos sentimentos são grandes bússolas internas e podem se tornar em uma das coisas mais úteis em nossa jornada - apontando coisas inacreditáveis que muitas vezes o olho cru não percebe de primeira.
Quando eu penso na raiva, penso nela como um mapa, um sentimento de grande utilidade que está ali como um grande sinal. Um sinal que algum limite meu foi ultrapassado e que eu não estou confortável com o que é e como as coisas estão.
Entender e aprender isso foi uma jornada intensa (e longa) para aceitar que está tudo bem eu sentir todos os sentimentos do grande espectro humano de possibilidades: do amor até o ódio profundo, da felicidade até a inveja, da coragem até o medo.
Sou humana e sinto.
Já fiz as pazes com isso.
O que me levou a grande questão: incrível, e o que eu faço com isso?
E aí a deliciosa combinação de duas palavras entra: inteligência emocional. De saber fazer esse gerenciamento interno das nossas emoções e sentimentos, das respostas internas ao externo e também a muita coisa interna que sobe até a superfície. A jornada de expansão da nossa inteligência emocional não é fácil pelo simples fato de que nossas emoções tendem a ganhar da nossa razão.
Conseguimos pensar em “saídas” de maneira racional, mas quando nossas emoções estão em ebulição, a teoria ajuda muito pouco. Quando sentimos desespero, só desejamos o acalento e a solução manifestada o mais rápido possível.
Com emoções boas, queremos as esticar para que durem para sempre. Com emoções desafiadoras, só queremos que pare de doer o mais rápido possível. Pra ontem.
Viver esse gap e esse desafio interno é sobre ser humano. É essa escola que todos nós vivemos, todos os dias, a partir das nossas escolhas e nossos desafios. Aprender a navegar nossa humanidade é o nosso propósito aqui. E eu acredito fielmente nisso: Não estamos aqui para sofrer, mas estamos aqui para aprender. O caminho do aprendizado é uma escolha pessoal, pode ser pela dor ou pela sabedoria, mas com certeza não será pelo conforto.
Conforto e crescimento não andam de mãos dadas. Ouso dizer que muitas vezes são antagonistas. Fazer as pazes com o fato de que a vida não será confortável e que será cheia de desafios vai te ajudar muito (ou pelo menos me ajuda) a ver o grande propósito por trás de tudo que há. A vida está aqui para me dar suporte para ser melhor, para crescer. O resto… é comigo. Escolha minha. Pessoal. Intransferível.
Ao ver a utilidade em minhas emoções, ao entender que elas são um sintoma, uma representação de uma resposta interna a algo, isso me ajuda as acolher com amor e sinceridade e não ter medo delas. Ao me permitir sentir ódio, raiva e todo o espectro de emoções, me permito também de saborear o amor e felicidade de outra maneira.
Ao me permitir sentir viva, ao permitir tudo que existe pulsar entre minhas veias, permito estar conectada com o que é, o que já foi e o que pode vir a ser. Quanto mais eu sinto, mais eu vivo, mais eu me conheço, mais eu desenvolvo.
E assim, dia a dia, transformo cada sentimento em mim
em pequenas pedrinhas de ouro,
contendo em si,
todo o universo que há em mim.