Escrevo essa carta do meu café favorito e feliz com as escolhas que eu fiz para mim nas últimas 24h.
Hoje, me dei ao luxo de fazer algo que eu não faço muito. Eu reli algumas cartas passadas daqui para relembrar alguns momentos. Ri sozinha. Algumas cartas estão bem escritas, estruturadas e outras estão com erros óbvios de português. E, sabe, o contraste na verdade me faz feliz. Consegui sentir compaixão e orgulho pela Ana dos muitos erros (dos quais pela carta, eu sei que escrevi em momentos de exaustão) e senti também amor pela Ana que decidiu abrir esse espaço para o mundo, onde eu divido mais da minha vida.
Como eu disse ontem, acabei me focando no gap, no espaço entre onde eu estou e onde eu quero chegar e reler essas cartas foram um lembrete da vastidão que existe dentro de mim. Quantas memórias já divididas aqui? Quantos países visitados nos últimos anos? E pensar que eu só fiz essa newsletter na metade da minha jornada nômade pelo mundo. Ainda fico sem acreditar que eu posso olhar pra trás e ver quase 2 anos da minha vida em que eu tive essa liberdade geográfica.
Eu fecho os meus olhos e lembro de Lisboa, uma cidade que eu nem tinha tanto interesse de ir, que fui por causa de um evento e lá conheci alguém que mudou completamente a minha vida - uma cidade que eu fiquei por quase um mês. Pisco, e lembro de Barcelona, onde fiquei por quase um mês também, outra cidade que mudou minha vida em um jantar com uma amiga, que depois de uma garrafa de vinho, me chamou para uma viagem ao México, onde fiquei por 2 meses.
Como explicar pra minha versão do passado que ela iria para Estônia e ficaria lá por 2 semanas, sentindo frio… no verão? Em um lugar que o sol não se põe completamente no verão e que nunca escurece de verdade?
Penso em um momento da minha vida que eu tomei a decisão que permitiu tudo isso acontecer. Janeiro de 2021, em uma praia fria da Bélgica. Não consigo expressar em palavras o horror que eu estava vivendo lá, o medo de estar há mais de 6 meses sem trabalho, sem perspectiva e morando com alguém que eu vivia em um relacionamento abusivo. Consegui ir para Europa em pleno 2020 com um visto especial de reencontro de namorados, usando minhas últimas economias, para voltar solteira, com o coração completamente destruído.
Naquela praia fria belga, em pleno inverno, com um casaco de neve eu senti o vento gelado no meu rosto e me conectei com algo: uma sensação, um toque, uma esperança. Eu poderia não ter feito nada. Eu poderia ter continuado com aquilo - que na superfície e para os outros parecia perfeito - mas aprendi na marra que não podemos negociar com nossa alma. Ao me conectar com aquilo, eu resolvi fazer a coisa mais inacreditável que podemos fazer. Eu resolvi acreditar em mim mesma. Eu resolvi abri mão de tudo que não me servia. E eu fiz a coisa mais difícil da minha vida. Eu disse chega e não olhei para trás.
Hoje, vejo que eu tive que pagar um preço alto por isso. Não só de recuperar o coração quebrado, mas de ver a causa de tudo que me levou a alguém e a um relacionamento daquela maneira. Minha situação era um sintoma e eu precisei descobrir a raiz verdadeira, o porquê de tantos relacionamentos com homens que me sabotavam e que me puxavam pra baixo. Fazer o trabalho interno de olhar pra sujeito embaixo do tapete e de realmente arregaçar as mangas e começar a limpeza foi a coisa mais dolorosa que eu já fiz. Foram meses. Na verdade, foram quase 2 anos da minha vida. Foi em 2023 que eu não só comecei a me sentir eu mesma de verdade, mas que eu comecei a me sentir como nunca antes.
Essa sensação que eu senti na praia era uma promessa. Quase como que se fosse uma realidade potencial. Que poderia vir a existir e que por mais que estivesse muito longe, eu me permiti ter a esperança de que um dia eu poderia alcançar essa realidade. Ao olhar profundamente para o mar, para o infinito, me conectei com o meu coração que estava destruído e senti algo. Um abraço, um amparo invisível. Uma promessa verdadeira da vida. Que se eu confiasse nela e em mim, ela iria me proteger. Não me dando o que eu quero, mas sempre me dando o que eu preciso.
Ouso dizer que talvez eu tenha me conectado, naquele momento, com o fluxo da vida. Algo natural. Os rios da existência que naturalmente correm em alguma direção. De volta aos braços do nosso criador - seja lá o que isso signifique para você e para mim. Por anos eu já não conseguia me conectar com essa sensação. De que o peso do mundo não precisava estar sob meus ombros e de que eu não estou sozinha. De que eu, com essa força da vida, seremos sempre a maioria.
Desde então, um dos grandes trabalhos da minha vida foi e é me conectar com essa sensação. Com essa promessa. Me conectar com algo muito maior do que eu, que desde aquele dia na praia, sempre entrega. Novamente, não apenas o que eu quero, mas sempre o que eu preciso. Hoje entendo que o trabalho de conexão com esse fluxo é muito mais sobre remoção e sobre permissão. Ele está ali, sempre disponível, para todos nós. Só precisamos fechar nossos olhos e abrir nosso coração e… permitir essa energia entrar. Essa energia tão característica, mas que muitos de nós parou de acreditar em seu poder.
Em que momento viramos tão descrentes do poder da vida?
Não sei bem dizer e apontar o momento que eu parei de me conectar. Mas, posso te contar o momento que eu me reconectei. O momento que eu decidi seguir essa luz, essa sensação, essa pulsação que me chamava, que me pedia para acreditar, que me pedia para me abrir para o que poderia ser e terminar tudo que já era e não me servia mais.
E, posso te contar tudo que aconteceu desde que eu permiti essa energia na minha vida.
Os primeiros meses foram infernais. Eu estava no Brasil, sem emprego, sem perspectiva de viajar, na espera da vacina, com fronteiras fechadas e familiares morrendo na pandemia, enquanto eu me recuperava do término de um namoro que me marcou muito. Lembro que eu chorei todos os dias por meses. Baldes e baldes de lágrimas. Mas, eu nunca mais tive ataques de pânico - algo comum durante meu relacionamento. Passei por um processo profundo de limpeza, onde olhei todos os meus medos no olho e permiti que eles me atravesassem.
Foi aí que tudo começou a mudar. No meio do caos, eu me permiti lançar e começar o meu maior sonho de todos. A minha mentoria. Ela representa a coisa que eu mais tenho orgulho na minha vida. Vocês não tem ideia do quanto foi difícil pra mim acreditar que não só eu poderia fazer isso, mas que pessoas acreditariam em mim também.
E com o tempo, realizei outros sonhos. Viajei o mundo. Aluguei meu primeiro apartamento - em Dubai - e vivo a vida que eu sempre sonhei, de trabalhar de cafés, ter liberdade e poder construir novos sonhos. Enquanto eu mentoro pessoas maravilhosas a atingirem seus sonhos também.
O processo de conexão com esse fluxo, esse potencial, essa esperança foi sempre potente, presente e disponível. Mas, minha mudança interna foi lenta, gradual. Abrir mão de padrões antigos não é fácil, mesmo com esse fluxo de energia sempre ali, pronto para me dar esse suporte assim que eu me permitisse abrir o coração um pouquinho.
Hoje, ao olhar para minha vida consigo ver com uma grande clareza que todos os momentos mais desafiadores, onde eu me sentia perdida, eu na verdade estava me sentindo desconectada, desalinhada. É uma sensação muito específica, diferente de tristeza ou desânimo. É um sensação de falta de energia, de apatia, como se eu literalmente estivesse fora da tomada. E eu estava mesmo. Quando não estamos conectados com esse fluxo, estamos definhando aos poucos. Esquecendo quem somos de verdade - tão preciosos a expressão máxima da coisa mais incrível que existe: a própria vida.
Sabe, há muita vida na vida. Muito poder. Muita energia. Muita mágica.
Sempre disponível para gente. Mas, muitos de nós esquecemos disso. Ou, simplesmente paramos de acreditar. Na vida e em nós mesmos.
Ao ver minha vida hoje, mesmo com altos e baixos, consigo ver e sentir com tanta clareza o que significa, de verdade, estar em conexão com esse fluxo. Me sinto conectada. E, como num passe de mágica, a vida anda.
A vida provê.
Esse é o natural que deveria ser o normal das pessoas. Mas, que, infelizmente, não é, pra muita gente. Com tantas distrações, tanta conexão com coisa que não importa, esquecemos de nos conectar com nosso coração e esquecemos de voltar pra casa.
Pois é nesse momento, quando abrimos nosso coração e sentimos a força da vida pulsando dentro da gente, que aí sentimos estar onde deveríamos estar. No nosso berço, onde somos muito cuidados, amparados e onde as coisas são providas.
Nos sentimos em casa.
Nos sentimos em paz. Com o que é.
E sentimos muita esperança e força. Com o que ainda pode ser.
O fluxo que é o normal
e a vida provê.
Que carta sensacional, Ana! No significado mais puro dessa palavra... Wow, juro por tudo, hoje (4/11),é meu aniversário, e uma das primeiras coisas que pensei ao acordar foi nessa newsletter, e da potencial mensagem que teria nela. Dito e feito! Gosto muito dos teus textos, mas esse bateu diferente rs. Já me senti conectado com essa energia após um momento traumático, e desde então busco me alinhar com aquela sensação. Hoje posso dizer que construo uma vida intencional baseada nos meus sonhos e projetos. E isso graças a ti! Ontem mesmo conversava com um amigo sobre as "coincidências" da vida, e é muito louco lembrar do processo que passei até te conhecer, e desde lá tento construir minha Vida de uma nova maneira, e enxergar todos os dias como um milagre. De fato, acredito fielmente que exista uma energia que as pessoas se bloquearam de enxergar após um determinado período. Gosto muito do livro "O Alquimista", e penso que essa Energia seja o Amor como divindade, sem forma física, mas que em muitos momentos evitamos encontrá-la. Gratidão não expressa meu sentimento nem alguma outra palavra que consiga pensar, mas enfim; muito obrigado MESMO por "limpar minhas lentes" e por esse presentão de aniversário kkkkk