Escrevo essa carta de um café muito importante da minha vida, um café do qual eu já escrevi muitos posts do meu antigo blog em 2017/2018 e sendo sincera, não consigo expressar a gratidão que eu sinto de estar aqui - dessa maneira.
As últimas semanas tem sido intensas, para dizer o mínimo. Emocionalmente, sinto que estou vivendo semanas em dias e tenho processado muita coisa ao mesmo tempo. Num primeiro momento, me senti sobrecarregada e não consegui processar tudo que eu senti. Foram muitas memórias, dores, sentimentos e ao adicionar China e todos seus desafios diários… eu não soube lidar.
Isso me levou a cancelar os planos de uma viagem longa pelo país e a marcar uma viagem rápida para Pequim, para celebrar 10 anos da minha primeira ida para a China e 10 anos do meu intercâmbio para a BLCU. Se os primeiros dias no país, em Shanghai, foram desafiadores, os poucos dias em Beijing não foram diferentes. Peguei a chegada de um tufão que me deixou meio ilhada no meu hotel e não consegui fazer quase nada do que eu queria fazer por lá. Mas, de alguma maneira, mesmo trancada no meu quarto de hotel, eu comecei a sentir uma diferente. Pude me reconectar com a China que eu amo (a China antiga, de 5 mil anos) e pude sorrir novamente.
Literalmente, uma sensação de novos ventos…
Nesse meio do caminho eu troquei minha passagem de avião para ir embora uma semana antes do planejado. Eu só queria ir embora e dar o pé daqui o mais rápido possível. Eu não conseguia lidar, e decidi ser gentil comigo. Eu não precisava forçar a barra.
E eu não forcei.
Mas, ao chegar em Shanghai de volta, algo mudou. É difícil colocar em palavras sem que isso soe estranho, mas eu estou com um apartamento para mim, que é de uma amiga de uma amiga, que ela me emprestou sem eu nem conhecer ela. E ela nem me cobrou nada! Pude conhecer ela por algumas horas (entre duas viagens que ela está fazendo, onde ela foi pra casa trocar a mala dela) e eu senti que eu conheço ela… de outras vidas? E que se hoje ela me ajuda é porque um dia eu já fiz isso por ela?
Eu não sei explicar, mas eu senti como se essa viagem, apesar de estar se saindo nem um pouco como eu esperei ou planejei estivesse trazendo as pessoas e as oportunidades certas, sem eu nem perceber. De maneiras que eu não consigo nem compreender ainda, se é que eu vou compreender um dia.
Sem nem pensar muito, eu peguei uma bicicleta e fiz quase que a parte de Puxi inteira da cidade. Eu vi tanta beleza, tantas árvores… que eu consegui me conectar com a cidade de uma maneira que eu não me conectava há anos - se é que um dia eu me conectei assim.
Também me vi com uma realidade desafiadora. Não existem muitas pessoas que eu consigo dividir com facilidade aspectos de mim. Quantas pessoas que você conhece que já viveram em tantos lugares diferentes? Que tem esse nível de liberdade? Que é capaz de passar seu tempo nessas cidades tão distantes entre si? Que conhecem Dubai, Shanghai, Seoul tão bem?!
E aí, comecei a ficar com vontade de ficar mais por aqui. /Como assim?
Ontem de manhã, senti uma intuição forte de que eu deveria ficar mais dias nessa cidade que já foi minha casa. Que há mais coisas aqui para mim, que é importante eu ficar mais. De tarde, visitei um escritório que foi o grande sonho da minha vida por anos e lá… algo aconteceu. Recebi uma dica muito clara de que eu deveria ficar mais dias, que há ainda coisas para acontecer enquanto eu estou aqui.
Sei que estou sendo vaga, mas com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, estou esperando tudo ficar mais claro para realmente entender o que isso tudo significa. Mas, a mensagem era clara: fique mais tempo. E hoje, com 24h de antecedência para o meu vôo de volta a Dubai eu troquei a passagem (mais uma vez!) para ficar ainda mais tempo que o planejado no começo. Será no total quase um mês por aqui(!!).
A verdade é que racionalmente eu não sei bem o que está acontecendo. Mas, decidi seguir minhas intuições e confiar no fluxo da vida. Tudo está facilitado para eu ficar. Eu tenho um apartamento, pessoas, estou feliz nessa cidade e há algo no ar. Novos ventos, e consigo, novas oportunidades.
Me conecto aqui com a Ana de 5 anos atrás, que ao escrever posts do blog desse mesmo café, imaginava e sonhava com uma vida… exatamente como a que eu tenho hoje. Mas, o caminho até aqui foi impensável, inimaginável. Sinto orgulho de mim. Sonhei em empreender, em ter uma mentoria, em viajar o mundo, em ter liberdade. Consigo olhar para trás e ver os últimos anos, e tantos países, tantos resultados, tanta expansão.
Respiro fundo. Apesar de desafiadora, a vida está indo na direção que deve ir: do crescimento.
Sinto que lentamente estou testemunhando novas portas se abrindo na minha vida, portas desconhecidas, inesperadas mas ao mesmo tempo… tão certas para mim.
Ontem, ao entrar nesse escritório, senti muito forte que o melhor era inevitável. Que eu não precisava fazer nada.
Eu só precisava… não resistir. Soltar. Permitir.
Respirando fundo, soltando todas as tensões dos meus ombros, mudei a data do meu vôo. Não quero mais fugir. Nem tenho mais do que fugir. Tudo está bem.
Essa viagem a China ainda é tudo que pode e deve ser.
Que eu nem sei direito ainda o que é.
Mas eu sei, com toda a confiança do mundo:
o que é meu está guardado e coisas boas acontecem no meu mundo.
Eu só preciso não resistir.
Eu só preciso…
permitir.
De todas as 97 cartas lidas, essa foi a que mais me conectei, me conectei pois passo pelo mesmo, de voltar a questões passadas e ressignificas e de voltar a lugares que sei que tenho mais a viver ali, gratidão Ana por expor isso em palavras que me tocaram tanto, sei que temos um lindo proposito aqui nessa terra e que coisas boas acontecem para nós. Gratidão por ser minha mentora e uma das minhas referencias para a vida!