Escrevo essa carta de um dos meus cafés favoritos em Dubai, ainda no meio da tarde, entre os diferentes itens da minha lista de coisas que eu quero completar pro dia de hoje.
É interessante pensar que eu pedi para junho fosse leve enquanto os últimos dias foram bem intensos. Mas, apesar da intensidade, fica o alívio da clareza que eu tenho desenvolvido a respeito de diferentes áreas da minha vida e que, apesar de um primeiro momento de confusão mental, trouxe sim, uma certa leveza no meu peito.
Sabe, nem tudo precisa fazer sentido o tempo todo.
O dia de hoje começou mais cedo para mim, que por conta da mentoria da última noite, dormi menos de 4h. Aja cafeína para sobreviver o dia de hoje. Acordei, me arrumei e fui direto para a formatura do DBA do qual eu havia sido convidada.
Acredito que quase todos conhecem a minha história, mas para os que não conhecem, o DBA (Dubai Business Associates) é um programa de trabalho de quase 1 ano, que tem como patronagem o HH Sheikh Mohammed, ruler de Dubai.
Esse programa tem como foco atrair jovens talentos profissionais de diferentes países, para vir para Dubai e trabalhar em projetos de consultoria estratégica para diferentes orgãos do governo e também empresas locais. O programa te dá a oportunidade de trabalhar em um dos centros do Oriente Médio, desenvolver habilidades profissionais críticas, morar em um hotel 5 estrelas, além de ser um programa pago, que te traz para Dubai com um pacote completo de expatriado.
Eu tive o privilégio de ser a segunda brasileira escolhida na história do programa, para o ano 6, e hoje, compareci para a formatura do ano 8. Logo após me “formar” no DBA, eu criei a minha mentoria e tenho muita felicidade de dividir que pude ajudar na seleção de duas brasileiras, para o ano 7, ambas minhas mentorandas, sendo a Rafa da turma 1 e a Yasmin da turma 2. Hoje, pude assistir dois brasileiros se formando no programa, sendo o Igor, meu mentorando da turma 3.
Senti uma espécie de nostalgia e felicidade por estar ali. Ao cumprimentar o diretor do programa - alguém que eu já temi muito no meu período de seleção - e receber um abraço tão forte, me senti em casa. Já havia encontrado ele na semana passada, para um evento de recepção pré-formatura e já estava pensando sobre como a vida é.
Houveram períodos da minha vida que eu tinha uma ansiedade muito grande, principalmente no período do processo seletivo desse programa. Eu não passei de primeira. Eu tentei entrar no ano 5, fui para a fase final, mas não fui selecionada. A segunda tentativa, durante o ano 6, foi desafiadora, pois era algo que eu queria muito e eu sabia que essa oportunidade poderia mudar minha vida.
Foram longos meses de puro suco de ansiedade. Na época, me sentia muito sozinha, pois não conhecia uma pessoa que já tinha feito o programa ou que estava aplicando. Me mudei para Dubai sem conhecer um ser humano que morasse nessa cidade ou no próprio país. E hoje, ao olhar pro palco e ver todo esse filme passando pela minha cabeça, senti uma gratidão muito profunda. Por ter conseguido viver o que eu queria, por ter ajudado outros a fazer isso também e por ter feito grandes amigos no caminho.
Me pego refletindo sobre o tempo. Como que o tempo passa, de qualquer maneira, e que ou os nossos sonhos se transformarão em memórias de coisas vividas ou apenas sensações de algo que queríamos e não conseguimos. Uma vontade. Um desejo não manifestado. Me vejo refletindo sobre meus sonhos atuais. As coisas que eu quero fazer. Tudo que eu quero viver. A certeza de que o tempo passará e que algo acontecerá me anima. Ainda não sei dizer exatamente com detalhes o que vai acontecer, mas sinto um alívio grande de saber para onde estou indo. De ter a minha direção tão clara.
Ao olhar pro palco, em um momento vi a Rafaela, como alumni, anunciando o nome dos formandos e o Igor subindo no palco.
/Caramba, como foi que chegamos aqui?
Senti uma alegria pelo meu corpo.
Um certo alívio.
Um dos principais papéis que eu tenho como mentora é passar o bastão. Ajudar outros a viver que eu já vivi. E já ter 3 mentorandos formados com sucesso no programa me deixa feliz. A verdade é que esse é um dos programas mais concorridos do mundo. Esse ano, foram mais de 12 mil pessoas aplicando pra menos de 30 vagas. Tem noção do que é isso?
E eu sei, com uma clareza profunda, o meu papel na jornada de cada uma dessas 3 pessoas. De como minha experiência pessoal foi fundamental para ajudá-las a conseguir isso. De como me ter deixou tudo mais fácil - algo que eu adoraria ter tido na minha vez, mas que não tive.
Ao ver os resultados que a minha mentora trouxe na minha vida, vejo o poder de ter mentores. Ao ver o resultado que a minha mentora trouxe para as pessoas que confiaram em mim, sinto otimismo. Talvez - só talvez - eu tenha descoberto um segredo de ter mais resultado na nossa vida. Simplesmente… ter ajuda. Ajuda de quem já fez. De quem já conquistou. Para mostrar o caminho das pedras. Para apontar erros e acertos. Para deixar mais rápido, mais fácil e mais indolor.
Naquele momento, olhei pra minha história pessoal, a história de pessoas que por diferentes coisas da vida acabaram entrando na minha jornada. Já perguntei antes para a Rafaela, como que ela me conheceu. Um dia aleatório no Instagram levou ela a me conhecer. E naquele momento, ela jamais imaginaria que uma grande porta estaria se apresentando para sua vida. E que aquela porta a levaria ao Oriente Médio.
Sabe, a vida é bem assim.
Podemos planejar o quanto quisermos, mas no fundo, a maioria dos nossos resultados vem da nossa interação com outras pessoas. Que nos mostram oportunidades. Que nos inspiram. Que nos ajudam. Que simplesmente acreditam na gente. E ao fazer isso, mudam nosso destino para sempre.
Com tantos mentorandos, consigo ver claramente o processo de plantio e colheita. Acompanho algumas pessoas há quase 2 anos agora, e já vi uma série de resultados que são consequência direta de uma postura interna. De uma postura de plantio. Apesar da ansiedade pelo resultado dos escolhidos para a próxima turma (ajudei mais de 20 pessoas a aplicar da minha mentoria), fica também a consequência tranquila de um trabalho bem feito.
Eu tenho algumas certezas na minha vida.
E uma delas é que de que se plantarmos - da forma certa - o plantio que queremos é inevitável e vira uma questão de tempo.
Hoje, está sendo um dia bom. Ainda está começando e há muita água para rolar ainda. Mas, já sinto aquele sentimento que eu tanto gosto.
Gratidão, universo.
Por tudo.