Escrevo essa carta deitada na minha banheira, no intervalo entre a leitura do meu livro e um pouco de descanso.
Hoje o dia começou bem cedo, junto com o nascer do sol. Fui direto caminhar bem no comecinho do dia e pude finalmente relaxar um pouco, depois de ter ido dormir encolhida ontem. Fiquei 1h10 caminhando enquanto ouvia um áudio da Louise Hay, que sempre serve de guia em momentos difíceis ou momentos que eu quero me reconectar com uma energia de tranquilidade.
Dubai já está tão quente, que quando voltei pra casa, 7h da manhã, eu já estava ensopada de suor. Com o nascer do sol ficando cada vez mais cedo, minhas caminhadas vão precisar seguir o sol, porque 7h da manhã já está tarde demais e praticamente insuportável para estar na rua com o sol direto na pele.
A manhã foi tranquila, de trabalho e organização, apesar da fome. Decidi voltar a fazer jejum intermitente e foi um desafio ter que esperar algumas horas para finalmente comer, mas um desafio que vale a pena. É impressionante como minha mente fica mais afiada com o jejum, sem falar como que eu sinto de verdade que meu corpo funciona melhor dessa maneira.
Hoje, também tive a minha última sessão com o personal trainer que eu tinha contratado. Sendo sincera, ainda estou inchada e tentei ignorar a minha decepção comigo mesmo. Tinha imaginado que meu corpo estaria de um certo jeito no dia de hoje e bem, está longe disso. Apesar de entender racionalmente que o processo de acúmulo de massa magra não é linear, meu emocional ainda se rebela. Preciso lutar fortemente para não deixar meus sabotadores internos gritar e fazer com que eu não me sinta boa o suficiente.
As vezes sinto que eu e meu corpo estamos numa batalha, onde minha mente quer ir para um lado e o corpo quer ir para outro. Ainda anseio pelo dia que não será mais assim. Hoje, foi muito melhor que ontem. Mas, ainda estou longe do ideal da pacificação interna.
Ao voltar da academia, e carregar comigo alguns sentimentos ainda dúbios, decidi que meu café e minhas horas de mais trabalho deveriam esperar. Fiz algo que eu não fazia há algum tempo: uma faxina pesada. Fiquei quase que 2h lavando chão, privadas, espelhos e tudo mais que você possa imaginar.
Eu realmente acredito que nossa casa - principalmente nosso quarto - representa nosso estado mental. Se eu entrar na casa de alguém, pelo estado das coisas eu já começo a imaginar o estado interno da pessoa.
Eu, pessoalmente, acredito ser impossível uma pessoa ser disciplina se a cama dela não estiver arrumada. Tudo sempre começa pela cama, pela primeira tarefa do dia que só depende exclusivamente da gente: esticar os lençóis.
Com capricho.
Arrumar nosso local onde voltaremos em algumas horas para mais uma noite de sono. E aí, na manhã seguinte, repetir isso de novo.
Senti que precisava lavar minha casa inteira para aí abrir mais espaço mental interno para uma faxina interna. E que coisa boa. Como eu amo estar em um ambiente organizado e limpo. Realmente faxinei com força e vontade. Só no final percebi que não tinha usado luvas e meus dedos estavam tão secos que fiquei com medo de ter ficado com alergia a algum dos produtos utilizados.
Ao sair de casa e olhar para trás, vi minha casa brilhando. Tudo, absolutamente no seu devido lugar.
Que alívio.
Ao ir para meu café, pude tirar um tempo para organizar ainda mais meus próximos dias. Decidi, por um impulso, fazer uma nova mentoria gratuita no domingo, as 11h do Brasil. Ao escrever num papel tudo que eu quero falar, tive que respirar fundo. Essa mentoria vai ser longa. E bem, vai demorar quanto tempo for necessário. Não vou economizar ideias e informações. Ri quando pensei pra mim mesma: o ideal seria as pessoas já trazerem o seu almoço - elas vão precisar de energia.
Num dos grupos de WhatsApp que eu faço parte, das pessoas que estão tentando o processo seletivo da Disney, vi que algumas pessoas estavam num grupo do Google Meets praticando para as entrevistas. Fiquei ouvindo e não me aguentei: dei uma mini mentoria de 5 minutos com dicas que eu espero que tenham sido valiosas para quem estava ali.
Não sei dizer bem porque eu sou assim, mas quando tenho uma oportunidade de dividir algo que eu sei - e que vai ajudar pessoas a conseguirem o que eu consegui - eu simplesmente não consigo me segurar. É quem eu sou.
Passei também um tempo respondendo os comentários da última carta de ontem, muitos feitos de maneira privada. Recebi até e-mails sobre isso. Fiquei muito feliz e grata por tantas mulheres terem se conectado comigo e pela minha vulnerabilidade ter sido aceita e acolhida com tanta graça. Sou muito grata.
Ao olhar pro relógio e sentir minha barriga roncando, percebi que tinha perdido o por do sol. O preço que eu paguei pela faxina. Faz parte. Never skip a sunset… 95% das vezes.
Fiquei pensando o que eu gostaria de fazer. Era minha sexta a noite e já tinha recusado encontrar uma amiga. Poderia voltar pra casa e continuar trabalhando, comendo algo de lá, ou…
E aí eu tive uma ideia. Um impulso.
Eu estava no café do shopping - que tem um dos melhores lattes do mundo - e lembrei que A Pequena Sereia estava estreando hoje. Hm… e se eu fosse ver o filme?
Olhei no site, uma sessão começaria em 45 minutos. Nem pensei muito. Pedi a conta, me levantei e fui.
Decidi que a minha noite de sexta-feira seria um date comigo mesmo. Um momento de relaxar e fazer algo diferente. Ao pensar que minha janta seria um pipoca, me permiti. Mais que isso, me animei.
A sessão estava lotada mas havia 1 ingresso disponível bem no centro… no canto. O meu ingresso. Comprei e fui direto pra minha poltrona comer minha pipoca e esperar pelo filme.
Comecei a lembrar de vários filmes que eu fui assistir sozinha e não sei se isso é comum para as pessoas, ou não. Mas, já perdi a noção de quantos filmes eu vi sozinha no cinema. Sim, alguns filmes específicos que eu estou muito animada pra ver eu realmente prefiro ver assim. Consigo me concentrar e ficar imersa na experiência. Outros, assisto sozinha porque não há outra opção. Há anos moro no exterior e nem sempre amigos podem - o que nunca me impediu de ir.
A Pequena Sereia é definitivamente um filme para ver de grupo e me senti sim, um pouco sozinha. Principalmente pelo fato de ser um musical - algo que me dá vergonha alheia de assistir no cinema. O filme em si foi bom, mas a pequena sereia nunca foi um dos meus filmes favoritos e honestamente, não preciso rever esse filme nunca mais. E ah, acreditem ou não, mas aplaudiram no final. Quis me enterrar na poltrona de vergonha!
Na volta, passei na livraria para ver meus companheiros livros. Ir na livraria é uma das minhas atividades favoritas e lá, fiquei pensando no meu futuro amor.
Por mais que tenha sido difícil, abri mão da última pessoa que eu me apaixonei. Por mais que seja difícil, todos os dias eu continuo abrindo mão. Deixando ir. Não dá. Eu quero mais. Dia após dia, abro espaço para algo novo, diferente.
Para um novo amor.
Não sei o seu nome, nacionalidade, idade, mas fiquei pensando que queria que ele dividisse a paixão pela leitura comigo. É algo importante, um valor pessoal. Enquanto olhava os livros e escolhia qual eu compraria, fiquei imaginando cenas do futuro, de nós juntos.
Por mais que eu passe muito tempo sozinha e por mais que eu não possa garantir que eu vou conhecer uma pessoa assim, carrego comigo não apenas uma esperança, mas também uma felicidade.
Eu sei bem o que eu quero. Não só em um companheiro, mas como que eu quero me sentir. E por mais que eu tenha tido relacionamentos longos no passado, eu nunca me casei com menos disso. Andando nos corredores, senti um alívio. Eu quase casei uma vez. Apesar de não ter noivado, falávamos abertamente do nosso futuro e se eu não tivesse terminado, acredito que estaria ainda nesse relacionamento - que eu era, bem no fundo, infeliz.
Mas, eu tinha me acomodado.
Senti uma paz tão grande em mim por não estar mais nessa situação, por ter conseguido sair. Sim, me sinto sozinha as vezes. Mas, tenho certeza que qualquer dor da solidão - que transformo em solitude - é muito mais suportável do que a dor de permanecer em algo menor que a gente. Quase como viver uma vida inteira calçando um sapato que não cabe, pequeno demais.
Sinto esperança de um dia conhecer alguém que eu vá agradecer aos céus por ter esperado, por não ter aceitado menos. Fiquei imaginando o que ele estava fazendo naquele momento. Se ele sentia a mesma coisa. Se ele imaginava que eu poderia existir. Se ele - de uma maneira inexplicável - também sentia minha falta, apesar de ainda não nos conhecermos.
Talvez nada disso faça sentido pra você.
E tá tudo bem,
como já diria uma das minhas frases favoritas: o mistério da vida não é um problema a ser resolvido, mas uma realidade a ser vivida.
Enquanto você não chega, continuo aprendendo a me amar ainda mais. Assim, vou conseguir te amar mais também.
Enquanto você não chega,
continuo com a faxina.
Interna & externa.
Abrindo mão de tudo que não me serve.
Abrindo espaço,
pro que há de melhor.
Pra muito amor.
De mim… pra mim.
E um dia,
de mim…
pra você.
como te explicar que sinto sua falta, sem nem ainda ter te conhecido?
Que carta mais linda! Quanto sentimento... Suas cartas estão cada dia mais tocantes e fortes, cada dia melhores <3
Ler a segunda parte desta carta me fez lembrar de uma música que adoro e que descreve exatamente esse sentimento. O título é "IDK You Yet", de Alexander 23. Pensei em deixar aqui caso queira escutar, visto que você sempre nos recomenda ótimas músicas. Acho maravilhoso quando encontramos os nossos próprios pensamentos na letra de alguma canção, especialmente aqueles que nos fazem perguntar "será que só eu penso desta forma?" e percebemos que afinal, neste mundo, não estamos sós 💙