Escrevo essa carta cansada, pronta pra dormir e pronta para dividir um outro lado de mim que eu não demonstro com tanta facilidade: minha fragilidade.
Hoje o dia foi de fazer o que precisava ser feito… como dava.
A verdade é que hoje eu chorei - algo que eu não fazia há algum tempo.
Hoje, eu me vi de frente com lados complexos dentro de mim, lados difíceis, desafiadores e desagradáveis. Lados, dos quais, eu sinto fisicamente sua presença mais sombria e que simplesmente me deixam mal, triste e cansada.
Ao sentar para analisar o feedback da mentoria 7, vi um resultado perfeito: nota 10 de todos que responderam. As melhorias, pouquíssimas, eu já tinha mapeado. Mas, um comentário mexeu comigo, porque tocou uma pequena ferida que eu estava tentando ignorar.
É engraçado como eu recebo esse feedback com frequência quando pergunto o que eu poderia melhorar a mentoria. De certa maneira, ele me deixa um pouco triste. Ler que meus próprios mentorandos percebem que eu preciso melhorar o marketing da mentoria me dói, porque cutuca uma ferida aberta, exposta e da qual eu estou tratando bem… desde sempre, desde o começo.
Já desenvolvi planos de marketing para empresas e quando eu penso em vender algo de alguém, meu lado criativo vem com toda força e meu lado executora dança essa dança com graça. Mas, quando o assunto é minha mentoria e um projeto próprio meu, o jogo muda. E meus próprios mentorandos perceberem isso e quererem que outras pessoas se inscrevam apesar da minha falta de competência é algo a ser digerido.
Eu sei, no fundo do meu coração, que a minha mentoria muda a vida de pessoas. Eu sei que todas se sentem muito satisfeitas. Já recebi, claro, muitos feedbacks de melhoria que implementei na velocidade da luz. E continuarei fazendo isso, já que conforme eu cresço e melhoro, a mentoria acompanha isso.
Ao ver tantos resultados positivos, eu sei e sinto no meu coração que pessoas fazerem minha mentoria é algo positivo e também importante - para mim, mas principalmente para elas. Eu sei o meu valor e sei o impacto que eu sou capaz de trazer na vida de alguém. E, sei também que a mentoria é maior felicidade da minha vida.
Mas, eu ainda sou o problema.
Eu não consigo fazer coisas mirabolantes para que mais pessoas me conheçam, saibam da minha jornada e percebam que talvez eu seja a pessoa certa para mentorá-las e também não consigo convencer as que já me conhecem o que eu poderia fazer pelas suas vidas.
Olhei para a minha lista de pessoas que já compraram a mentoria. Respirei fundo. Como eu sou grata, por cada um. Vocês não tem noção! Mas, também sinto um aperto no peito. Com metade das vagas ainda disponíveis e 10 dias para o começo da mentoria, sinto uma culpa muito grande.
Eu sei que é através de ações minhas que nomes deveriam estar naquele papel e que ainda não estão.
Vidas que eu quero tocar e que eu sei que posso impactar de maneira profunda, mas que ainda não estão ali, por minha causa. Porque eu ainda tenho bloqueio de realmente fazer algo grande e chamativo para minha mentoria, para o meu projeto. Minha falta de ação pode estar atrasando a vida de alguém, que por não me conhecer ou por eu não estar fazendo um trabalho bom de convencimento, não está tendo acesso a ideias e materiais que poderiam ajudá-la. Que poderiam mudar suas vidas.
E isso não é coisa da minha cabeça, é simplesmente eu olhar para meus mentorandos das turmas passadas e ver os seus resultados e seu feedback. Quase que diariamente algum mentorando me manda mensagem dividindo o quanto a mentoria foi importante na sua jornada e o quanto eu, como mentora, pude fazer parte do seu processo de conquista e sucesso. Eu sorrio, agradeço, mas sinto que simplesmente fiz minha parte. Eu não sou a receita mágica. Eu só sou o fermento.
Ao ver o número de vagas restantes, sinto vergonha e culpa: o quanto mais que eu deveria estar fazendo? ou talvez, o que eu estou fazendo de errado? porquê as pessoas não estão acreditando em mim?
Empreender é muito desafiador. Claro, tenho sorte de não precisar desse dinheiro para pagar minhas contas, mas é algo importante também, uma maneira de quantificar meus resultados e efetividade. E com minhas finanças indo para a nova empresa aqui nos Emirados, comecei a sentir escassez. Tenho dinheiro para os próximos meses e sendo realista, essa preocupação é um pouco ridícula, mas não consegui evitar esse sentimento. Não importa o quanto de dinheiro eu consiga investir, da construção de uma segurança, das terapias. O fantasma da escassez e do medo da falta sempre me encontra quando eu dou mole.
Misturado uma cólica infernal, passei o dia me sentindo lenta, culpada e triste. Me senti contraída. Frágil.
Fiquei pensativa. Ontem, estava num restaurante da lista Michelin, com um chefe amigo escolhendo nosso menu e colocando um relógio de milhões no pulso. Hoje, comecei a sentir escassez e que não era boa o suficiente, com medo de ser um fracasso e de estar prejudicando pessoas pela minha incompetência. A nossa mente pode realmente ser um pêndulo, se assim permitirmos. E eu não quero isso pra mim.
Não vou permitir meu sabotador interno me torturar por muito mais tempo. Mas, também, por hoje, me permito sentir.
Já falei abertamente sobre isso, mas divulgar minha mentoria sempre foi desafiador. O período de abertura da mentoria é sempre um período que eu vejo crenças pessoais gritando dentro de mim e que eu preciso lidar com muita coisa interna. Além de acreditar no projeto e em mim, ainda preciso que outras pessoas acreditem nisso tudo - pra só daí entregar todo o conteúdo. Acredite ou não, agora na turma 8 tudo já está muito melhor. No começo, eu não conseguia dormir direito. Mas, ainda anseio pelos dias que eu não sentirei isso no meu peito, o dia em que as coisas serão mais fáceis.
O fato de estar inchada e sentir que meus esforços na academia e na minha alimentação não estão surtindo efeito também me tirou do meu centro. A cólica, lentidão, dor de cabeça - e dor no coração - me levaram as lágrimas.
As pessoas esquecem que eu estou sozinha. Que eu tenho 2 empresas que eu carrego solita, que eu decidi empreender & ter um projeto pessoal (que eu cobro por ele!) e que todos os meus resultados dependem somente de mim. Eu não tenho um chefe ou um local que eu vou bater ponto todos os dias e tenho um salário garantido no final do mês.
E que bom!
Eu amo isso, mas todos os dias eu pago o preço de minhas escolhas. Há alguns dias estava na pirâmide do Egito por 2 dias, numa segunda e terça-feira, e hoje, olho pro céu e me pego de frente com todos meus fantasmas pessoais de merecimento. Eu não trocaria isso por nada e jamais reclamaria da minha vida. Eu só tenho problema bom! Mas, não é fácil, e hoje está difícil.
Lembrei do meu último relacionamento - que nem relacionamento foi. Me senti triste. Como mulher, luto pela minha independência, mas as vezes, me sinto cansada e gostaria de um abraço do homem que eu amo. Mentira, gostaria de muito mais. Me sinto com vontade de poder ser frágil com ele… por um momento só. De poder contar com ele num dia como hoje. Mas, não posso. Pelo menos, não com ele. Ergo meu peito, respiro fundo. Eu sei o que eu mereço e não vou voltar atrás. Não. Não. E não.
Não importa o quão difícil seja.
O dia de hoje foi sobre lidar com minha humanidade, minhas fragilidades, meus medos e anseios. E com cólica. Muita cólica.
Volto para casa segurando o choro e consigo ver o por do sol.
Agradeço, mesmo que seja difícil.
Faço então uma reunião da minha mentoria global - com todo mundo de todas as turmas. Chamei 2 mentorandas que fizeram o intercâmbio de trabalho na Disney ano passado, depois de tê-las ajudado no processo seletivo e ter participado desse resultado. A Ana, foi da minha turma 1 de mentoria. A Disney era algo impossível pra ela há 1 ano, e hoje ela estava ali, falando da sua experiência de ter trabalhado em Orlando, no parque Hollywood Studios da Disney na área nova da Disney. Ela foi pra Nova York também. Ela mesmo falou que ainda não acredita que conseguiu viver isso tudo. A vitória dela é mérito total dela, mas eu sei também que sem a mentoria ela não teria ido, já que ela descobriu o processo seletivo do ano passado pelo grupo. A Maria Luiza também, estive do lado dela incentivando ela por cada passo, e hoje ela também dividiu sua história, trabalhando nos resorts da Disney de Orlando.
Ver as duas dividindo suas histórias e dicas do processo seletivo - elas estão ajudando meus mentorandos que estão no processo seletivo desse ano - me emocionou. São quase 300 mentorandos até agora e todos participando dessa rede tão rica de ajuda mútua e crescimento. Brinco com elas, uma vez mentorando, sempre mentorando, já que sempre tem coisa nova pro pessoal das turmas antigas.
Eu não paro nunca de entregar valor - e que bom - é isso que me faz feliz. Queria que as pessoas acreditassem mais em mim. No quanto a mentoria me preenche e no quanto ela me faz feliz.
Fico lendo no meu sofá e me permitindo sentir tudo que meu corpo quer sentir. Medo. Felicidade. Gratidão. Culpa. Escassez. Abundância. Esperança. Insegurança.
Eu não sei o que vai acontecer no futuro. Só que eu estou fazendo o que eu posso. Meu melhor. Talvez não é ainda o suficiente, mas vai ter que ser. De verdade, estou fazendo meu melhor.
Longe do ideal, mas o possível.
Já 22h daqui, começo um novo encontro da mentoria avançada, com o Pedro. Ele fez a turma 1 da mentoria, com 17 anos e foi o único homem de um grupo de 30 pessoas. Ele acreditou em mim há exatos 2 anos, ainda perdido de como começar a graduação e do que fazer. Hoje, passamos 1h falando sobre suas opções de carreira e se ele deveria ou não já ser efetivado ainda no primeiro ano da faculdade, no seu primeiro estágio. Falamos sobre oportunidades e ameaças dessa decisão e sobre como que a graduação talvez representasse a oportunidade de experimentar diferentes coisas, para entender realmente o que se quer pelo contraste de experiências.
Sorrio e agradeço por ter tantas pessoas que eu já posso ver resultados e jornada por tanto tempo. Bom, pelo menos muita coisa pode acontecer em 2 anos. Essa é a realidade de meus mentorandos e a minha realidade também.
Termino de escrever essa carta pensativa. Talvez o ideal fosse manter minha persona de mulher forte, invulnerável e plena o tempo todo.
Será que é útil para as pessoas saberem que eu sou humana?
Que eu tenho dias difíceis?
Que eu sofro?
Que eu sinto medo?
Que eu choro?
Que meu coração foi partido?
Que eu também - as vezes - não me sinto boa o suficiente?
Com 10 dias para o começo da mentoria, olho de novo para a lista de nomes. Sorrio. Mesmo. Essas pessoas não tem ideias do quanto elas são importantes pra mim e pra minha jornada. São pessoas que acreditaram em mim e no meu sonho. Que eu vou dar tudo como mentora e que vou fazer meu melhor. Juntos, vamos construir uma história linda. De sucesso. De crescimento. De expansão.
Olho para a lista e vejo o espaço em branco. Respiro fundo. Prometo baixinho pra mim mesma que vou continuar dando tudo de mim. Que eu vou tentar entregar mais valor. Que eu vou tentar servir mais.
Prometo baixinho não fazer isso com uma postura escassa, com desespero. Agradeço por não precisar fazer isso. Mas, preciso de urgência.
É através de mim, das minhas ações, que os nomes certos entrarão para a lista.
Essa lista tão mágica.
De pessoas que entrarão no meu mundo.
Um mundo humano.
Mas, um mundo…
onde tudo é possível.
Eu acredito - e você?
Ana me indentifiquei muito com a carta de hoje, uma mistura de hormonios que nos causam dor física e mental. Tive uma devolutiva ontem que fez todos os meus auto-sabotadores acordarem e vários sentimentos surginerem. Desejo melhoras e que o Maio extraordinário continue por que esses dias também fazem parte <3
Que carta perfeita! Obrigada por compartilhar esse seu lado. Esses dias me peguei chorando muito tambem, como ha muito tempo nao fazia.. me identifiquei muito. Termino com uma frase que você ja pregou em mim: "if you build it, they'll come".