Escrevo essa carta já no meu voo de volta pra Dubai, no meio da madrugada.
O dia hoje começou cedo, mas ontem eu capotei que consegui dormir muitas horas - aliás, desculpas pelos erros na digitação, mas a última carta foi escrita enquanto eu lutava para manter meus olhos abertos.
Ao acordar e abrir a janela do meu quarto, fiquei ainda sem acreditar que podia ver as pirâmides dali, bem na minha frente, me dando um bom dia. /como que eu cheguei aqui?
Depois de um café da manhã reforçado, começamos nosso dia que tinha um objetivo: ver a cidade de Cairo, navegar pelo rio Nilo e ver as múmias, muitas múmias!
O primeiro local foi o Museu Egípcio, onde nosso guia deu um show para explicar a história do Egito enquanto andávamos pelas diferentes salas que mostravam a história antiga indo até a ocupação grega. Foi minha primeira vez indo em um museu com um guia particular e sério, que diferença que faz. Sem falar no quanto o meu guia sabia demais! Fiquei impressionadíssima!
No museu, eu pude ver todas as coisas de Tutankhamun, inclusive sua famosa máscara de ouro. Não era permitido tirar foto naquela sala, mas ao ficar de frente com aquela quantidade de ouro e principalmente com a máscara, eu senti um arrepio muito grande. Lembrei de que quando eu era criança, eu tinha uma coleção de revistas da National Geography e lembrei que uma das revistas tinha como capa justamente essa máscara.
Senti um arrepio muito grande com essa memória e parecia mesmo que aquilo não era real. Lembro que quando era pequena e ficava vendo a revista do Egito, pensava naquilo como algo muito exótico e interessante, mas, igualmente distante. E sei lá, estar ali, de frente com tanta opulência e história me fez pensar muito sobre a minha vida e sobre o meu papel em muita coisa.
Estar ali, naquela cidade que tem tanta miséria foi um contraste gigantesco de onde eu moro. Pensando bem, acho que Cairo foi a cidade com mais pobreza que eu já visitei na vida. Era esperado, claro, mas ao cruzar a cidade e ver tantas - tantas mesmo - ruas cheias de prédios inacabados e cobertas de lixo foi chocante.
Nos últimos anos pude ver minha cidade natal prosperar, além de ter me mudado e vivido em grandes metrópoles. Eu vi minha vida e meus arredores, pouco a pouco, se tornarem mais desenvolvidos. Mas, essa não é a realidade de grande parte do mundo, que vive abaixo da linha da pobreza.
Estar tão próxima disso tudo, ali, me fez repensar muita coisa sobre a minha própria vida e minhas escolhas pessoais. Até andar de camelo ontem - algo que eu já falei - representa um pouco disso. Me sinto um pouco confusa, e sei que vou precisar de um tempo ainda para digerir muito do que eu vi e vivi ali. Apesar de já contribuir de maneira privada e não falar sobre isso, me questiono: como fazer mais?!
Outra coisa também que me impactou muito no museu foi a parte sobre o período de Amarna, com Akhenaton. Há algum tempo que eu comecei a estudar sobre esse faraó, que mudou a história do Egito ao decidir trocar o politeísmo pelo monoteísmo. Sinto uma conexão profunda com essa época do Egito, esse faraó e principalmente sua mulher: Nefertiti. Estar ali, lendo e vendo artefatos dessa época me emocionou. Não conheço tantas pessoas que tem interesse em Egito e especialmente sobre algo meio “obscuro” da história do Egito como isso. Mas, é fascinante demais pra mim.
Seguimos, então, em direção ao rio Nilo - já que queríamos muito navegar por ele. Nosso guia estava claramente nos levando a lugares que ele tinha algum tipo de conexão e o barco escolhido não foi dos melhores, mas foi muito legal ver a cidade por esse ponto e pude riscar mais um item da lista de lugares que eu queria muito ir.
Terminamos, no museu nacional da civilização egípcia para ver as múmias. Há algum tempo foi até televisionada a parada do transporte das múmias do antigo museu para esse novo local. E assim, não sei nem explicar o que foi aquilo!
Ver as múmias de mais de 3 mil e quinhentos anos bem conservadas e ver detalhes dos dentes, unhas e cabelos foi um pouco assustador. Não sei se é porque eu cresci vendo o filme A Múmia, mas me deu muito uma sensação de que aquilo não era para os meus olhos, sabe? Quase como se todo o local fosse profano. Mentalmente, pedi permissão para estar ali. Infelizmente - ou felizmente - não era permitido tirar fotos no local.
O processo de mumificação é uma das coisas mais loucas que existem e meu estômago deu uma leve revirada ao pensar em como eles retiravam o cérebro das múmias (no começo do processo de mumificação) pelo nariz com uma pinça. Releia o que eu escrevi. Todos os órgãos internos eram retirados, com exceção do coração.
É muito louco pensar que isso era feito há mais de 3 mil anos! Ver ali de perto a múmia de Ramses II (o mais conhecido) foi algo bem impressionante para mim, ainda mais levando em consideração minha paixão pelo filme O Príncipe do Egito e sua história com Moisés.
Sem falar no crânio de várias múmias que realmente pareciam mais alongados na parte da trás, colaborando pra teoria de na verdade eles eram alienígenas. Uma loucura, mesmo.
A saída do museu dava para um lago que era a vista mais bonita da cidade, com deserto ao fundo e o lago coberto de árvores. Era bem destoante do resto da cidade, que era coberto do prédios um pouco inacabados ou sem pinturas.
Nesses dois dias, apesar de curtos, pude ver muito do que eu queria desse país. Claro, ainda faltam outras cidades que eu desejo muito conhecer, mas já pude ter um gostinho desse lugar que parece tão rico. Ao falar com o guia, chegamos a conclusão de que o Egito e o Brasil são similares: ricos de recursos, mas pobres de administração.
Volto para Dubai com o coração preenchido. Não tive problemas nesse viagem curta, apesar de estarmos apenas com um grupo pequeno de mulheres. Pude ver com meus próprios olhos uma das grandes maravilhas do mundo. E pude ter um choque de realidade que me fez expandir e desafiar meu mundo.
Quando comecei Maio extraordinário, jamais pensaria que faria essa viagem e aqui estou, já a caminho de volta. Quando me abri para que a mágica acontecesse na minha vida, acabei encontrando minha amiga no supermercado e bem, um convite já se transformou em uma memória.
A vida pode ser tão incrível.
Hoje, eu vi pirâmides do meu quarto de hotel e vi múmias. Muitas múmias. Em Cairo. No Egito. Algo impensável há alguns dias.
E assim,
A vida acontece.
Extraordinária.
Como ela pode - e deve - ser.