Escrevo essa carta já na cama do meu hotel que fica a poucos minutos das pirâmides de Giza, em Cairo no Egito, e estou batalhando fortemente contra o sono. /como que eu cheguei até aqui?
A ponte entre o dia de ontem e o dia de hoje foi uma noite no aeroporto e apenas 3 noites dormidas no voo de Dubai para cá. Arrumei minhas malas com menos de 1h de antecedência do horário que eu deveria sair de casa e precisei sair correndo para que tudo pudesse acontecer com facilidade.
O meu voo saiu do terminal 1 do aeroporto de Dubai que é o terminal “das outras companhias aereas” já que an Emirates voa apenas do terminal 3. Eu amo toda a oportunidade que eu tenho de ir lá porque eu realmente vejo pessoas muito diferentes de mim, muitas usando trajes típicos que eu não vejo com tanta frequência. Foi como entrar num túnel do tempo pra uma carta passada, onde contei minha experiência com o voo da Ethiopian Airlines saindo do mesmo terminal.
No voo inteiro eu capotei com a expectativa de que as 3h de sono (torta) seriam o suficiente para que eu pudesse funcionar durante o dia. Bem, foi.
A chegada na cidade e o caminho até o hotel foi marcado por um choque. Eu sabia que o Egito é considerado um país em desenvolvimento, mas em Cairo, o que eu vi foi uma miséria profunda, com prédios metade abandonados, carros completamente sucateados e até uma criança dirigindo um carro eu vi. Sem falar nos motocicletas sem capacete. Esse contraste com a minha cidade atual foi bem chocante, assim como a bagunça do trânsito.
Olhar pela janela do carro foi um lembrete muito poderoso do quanto o mundo é grande e do quanto a desigualdade é chocante. Cada esquina era um lembrete de coisas diferentes, mas principalmente, um lembrete de agradecer por tudo que eu já tive e tenho e minhas oportunidades.
O dia foi marcado pela entrada em Giza, onde vi as pirâmides de perto - wow wow wow! - e também por outros passeios. Vim para cá com uma amiga e sua irmã e contratamos o guia do hotel que sabia muito e que nos ajudou muito.
Sabíamos que sermos um grupo de 3 mulheres poderia ser algo desafiador, baseado na experiência de amigos, mas nossa guia foi de grande valor. Em nenhum momento me senti exposta ou com algo tipo de receio - ufa.
Poder ver, tocar e sentir esses lugares que já foram uma coisa reservada apenas para os filmes para mim foi algo que realmente preencheu meu peito. Eu sempre sonhei ter uma vida que eu pudesse viajar e ver as pirâmides na minha frente foi um lembrete do quanto eu já tenho tudo que eu poderia sonhar.
A Ana adolescente surtaria se ela me visse aqui, desse jeito.
Mas, ao mesmo tempo que foi incrível, foi desafiador. Me vi dividida entre fazer ou não a parte do passeio que só poderia ser feita de camelo ou de charrete e pensei seriamente em não fazer nada, em protesto aos criadores. Apesar de - acreditem ou não - os camelos parecessem ser bem cuidados e eu entender que esse é o trabalho de muita gente, ainda me vi dividida. Mas, no final resolvi fazer e foi sim, muito bom ver as pirâmides daquele ângulo.
Acho que ainda não consegui digerir e realmente deixar cair a ficha que eu estou aqui, e que eu passei o dia em um lugar que já foi meu sonhos.
Me sinto conectada a esse lugar, suas pessoas e sua história. No fundo, sinto que talvez minha história e a história desse lugar já tenham se encontrado no passado - intérprete isso como quiser.
Ao ver construções magnânimas feitas há quase 5 mil anos, reflito sobre o conceito de legado e que no fim, o tempo passa.
Estar aqui é o lembrete de que algo mais místico é real no meu mundo. De que há algo muito especial que circula essa terra abençoada pela fertilidade do rio Nilo.
De que sonhos existem para serem vividos.
E hoje,
vivi mais um!