065 | A vida fala com a gente, princípios da Nike & As vezes nem de graça a pessoa vai fazer
18 Maio, Dubai 2023
Escrevo essa carta de um dos meus hotéis favoritos aqui em Dubai, que é bem descolado e que - salve - tem um ótimo café e local para trabalhar.
Hoje o dia começou muito cedo e antes das 7h da manhã eu já tinha me exercitado e arrumado tudo para meu dia. Consegui até ligar para minha mãe (peguei ela acordada antes de dormir!) e já estamos organizando quando nos veremos de novo também. Diferentemente dos últimos dias, enviarei essa carta antes do meu almoço. Se mais coisas incríveis acontecerem hoje, ficará para a carta de amanhã.
Mas, não é nem 9h da manhã e já tenho algo para dividir.
Uma coisa meio engraçada que acontece na minha vida é que algumas vezes eu saio de casa rumo a um lugar específico e no meio do caminho eu sinto que eu deveria ir para outro lugar e bem… eu simplesmente vou. Há muito tempo eu aprendi a seguir esses impulsos meio “inexplicáveis”, já que eles sempre me mostraram que algo acontecia quando eu fazia isso. Ou eu nesse novo lugar eu encontrava alguém que eu precisava encontrar, ou alguma informação chegava pra mim que eu entendia que era importante.
E bom, hoje não foi diferente.
Saí de casa rumo a um dos cafés de sempre, mas no meio do caminho eu simplesmente vi um taxi passando, entrei e pedi para ir para outro lugar. Assim, do nada.
Cerca de 30 segundos e meu destino já estava diferente.
É engraçado que desde ontem eu estava pensando em um livro - que foi o livro escolhido para o clube do livro em fevereiro - chamado Shoe Dog. O livro conta a história da criação da Nike, uma autobiografia do Phil Knight. No livro, ele conta desde o começo da sua história, até a ideia de importar tênis de corridas do Japão para os Estados Unidos até a criação e crescimento da Nike em si.
Um dos poucos filmes que eu vi no cinema esse ano, aliás, foi justamente Air, que conta parte dessa jornada também. Um ótimo filme, por sinal. Desde ontem de noite eu fiquei pensando sobre a página com as filosofias da Nike e até no banho eu fiquei meditando sobre isso, principalmente o princípio 7 e a potencial maneira de encaixar isso na minha vida.
Para quem não conhece, a tal página com os princípios da Nike contêm 10 frases que englobam toda a filosofia da empresa. Ela ficava na parede do escritório do Phil e o próprio filme mostra isso de relance também.
1. Nosso negócio é mudança
2. Estamos no ataque. O tempo todo.
3. Resultados perfeitos contam — não é um processo perfeito.
Quebre as regras: lute contra a lei.
4. Trata-se tanto de batalha quanto de negócios.
5. Não assuma nada.
Certifique-se de que as pessoas cumpram suas promessas.
Se incentive e incentive os outros.
Alongue o possível.
6. Viva da terra.
7. Seu trabalho não está concluído até que o trabalho esteja concluído.
8. Perigos
Burocracia.
Ambição pessoal.
Tomadores de energia vs. doadores de energia.
Conhecendo nossas fraquezas.
Não coloque muitas coisas no prato.
9. Não vai ser bonito.
10. Se fizermos as coisas certas, ganharemos dinheiro quase automaticamente.
Fiquei pensando sobre como a maioria das pessoas não tem princípios para viverem suas próprias vidas ou seus projetos e também sobre como um grupo interessante de pessoas pensa que mentalidade é uma coisa boba ou que pode ficar para depois.
Ao ler esses princípios, fica óbvio que a mentalidade era o centro da Nike e de como eles faziam tudo ao redor disso. Sabe, uma das coisas que eu faço - o tempo todo - é estudar o sucesso. Estudar o que fez pessoas conseguirem viver seus sonhos e tirarem ideias que um dia já pareceram absurdas ou impossíveis e as transformar em realidade.
E existe um ponto em comum em todas as histórias que eu estudo, de pessoas que não vieram de um ambiente favorável para o que elas queriam construir: elas realmente fizeram o trabalho de entender o que elas pensavam e como elas pensavam. Toda pessoa que eu admiro e que teve um sucesso grande, em algum momento parou e realmente analisou: será que a pessoa que eu sou hoje, da maneira que eu penso, fazendo o que eu faço, vai me ajudar a chegar onde eu quero chegar?
Ser capaz de realmente olhar para sua vida e responder essas perguntas é algo que poucas pessoas realmente se permitem. Já que, no fundo, elas sabem que a resposta é não e bem, depois que fazemos isso e entendemos isso tudo, vem a responsabilidade de fazer algo com isso.
(o que muitos beeem no fundo, muitos respondem internamente com um grande: não, muito obrigada - melhor nem olhar para isso).
Isso me motivou a estudar esse assunto e depois de anos de prática - e alguns sonhos vividos no caminho - hoje é algo que eu divido com força nas minhas redes sociais, aqui e principalmente na minha mentoria também.
As vezes eu fico um pouco frustrada por talvez não conseguir expressar com tanta veemência (ou urgência) a importância de não só ter mentores, mas de realmente analisar quem somos, o que queremos e o grande gap que existe entre esses dois.
Só assim poderemos viver mais. Só assim!
Com menos de 3 semanas também pro começo da próxima turma de mentoria, me pergunto: o quanto mais eu posso dar e servir? Não só para que as pessoas possam ver o valor desse meu projeto pessoal e me dar a oportunidade de virar sua mentora, mas para que elas possam se abrir para essa jornada que é tão urgente - seja eu como mentora, ou não.
Sabe, eu ouço todos os dias desculpas, sobre como elas estão ocupadas, que não é algo para agora ou que elas precisam de alguma coisa primeiro, para então resolverem finalmente olhar para si e crescer.
Ao chegar no hotel, me levantei para tirar uma foto do pátio, e assim que eu apontei a câmera, eu vi um homem sentado - a única pessoa ali - e ele estava lendo um livro. É óbvio que o livro era Shoe Dog, o livro que eu passei a noite ontem pensando sobre.
Touché. É simplesmente como minha vida funciona.
Coincidências não existem, apenas nossa incapacidade de desvendar a linguagem da vida, que está o tempo todo conversando com a gente, nos mandando sinais e nos guiando também.
Olhei pra cima. Agradeci.
Entendido. Mensagem recebida.
Viver sob os meus princípios.
Acreditar em mim.
Fazer a minha parte.
Seguir em frente.
Confiar.
Há muitos dias eu estou pensando se eu deveria dividir ou não essa história, mas hoje senti que sim. Ela é uma história difícil, mas que representa tão bem o que eu vejo todos os dias, infelizmente.
Contei em uma carta no começo do mês sobre minha bolsa social para minha mentoria. Eu faço questão de separar bolsas para pessoas que não tem condições de acessar a mentoria e também dou prioridades para mulheres pretas, membros da comunidade LGBTQIA+, indígenas e pessoas com deficiência. Já falei e repito: dinheiro não pode ser o fato impeditivo de alguém ter acesso a mim. Jamais.
A seleção foi demorada, e levei em consideração diversos fatores. Para as bolsas completas de 100%, resolvi escolher apenas pessoas que já tinham aplicado para a bolsa no passado e levei em consideração as aplicações que eu conseguia ver que a pessoa tinha tirado um bom tempo para responder - não só pela coerência, mas também pelo o quanto ela escreveu, de que maneira, etc.
E então… eu tive uma surpresa. Que no fundo, não me surpreendeu tanto assim.
Um dos bolsistas recusou a bolsa.
Isso mesmo. Depois de ter aplicado - mais de uma vez! - e de ter preenchido parágrafos e parágrafos me contando da sua vida e do porquê a mentoria seria importante para sua história, ao receber a mensagem que tinha conseguido a bolsa, a pessoa simplesmente viu e um tempo depois me agradeceu mas recusou.
Eu sei, parece até mentira. Mas não é.
É a realidade. A vida da grande maioria das pessoas.
Muitos nem aplicam porque não se acham merecedores de coisas boas. Alguns, ousados, aplicam e quando conseguem, de fato fazem algo com isso. Outros, aplicam e quando conseguem, dão um jeito de provar para si mesmos que não são merecedores e se auto-sabotam. Simples assim. Eu vejo isso com meus próprios olhos. Todos os dias.
Claro, algumas auto-sabotagens são mais sutis que outras. Essa, nesse caso, é realmente um pouco homérica. Recebi um parágrafo sobre como a vida está ocupada nos próximos meses e como a pessoa acredita que não vai conseguir aproveitar a oportunidade.
Li isso e aceitei. Agradeci pela participação no processo. Mas, aceitei.
Sem dúvidas, fiquei frustrada. Não só pela perda do meu tempo (e da oportunidade que poderia ter ido pra outra pessoa), mas principalmente por ver isso na minha frente, tão escancarado assim.
Se já é difícil ver meus próprios mentorandos se auto-sabotando - e eu fazendo o que posso para gritar para eles: parou, parou, você está estragando a própria semente que você plantou!! Agora imagina ver isso acontecendo com alguém que eu tinha acabado de ler a história de vida (que a própria pessoa me mandou) e que eu tinha acabado de ter escolhido entre outras histórias de vida, justamente porque eu acreditei que eu poderia ajudar na sua jornada.
A verdade é que muitos (não todos) não querem pagar o preço. Que não é só monetário.
Elas não querem se desdobrar com seu tempo, acordar mais cedo no final de semana, ler livros, fazer exercícios… porque escolheram.
Porque de fato se comprometeram com algo por escolha própria.
A maioria das pessoas só fazem o que elas TEM que fazer. O que elas sentem que precisam fazer por obrigação. O resto? Ah, aí começa os sinais de diferenciação que eu vejo claramente do lado de cá….
Não vou mentir, quando isso aconteceu, fiquei puta. Não com a pessoa. Que Deus a abençoe, cada um colhe o que planta e o melhor é inevitável, só vai demorar mais.
Mas fiquei puta por ver isso com meus próprios olhos e não poder fazer nada.
O que eu poderia fazer?!
Sabe, eu tenho tantos exemplos de pessoas incríveis que tiveram resultados inimagináveis na minha mentoria que eu acho que eu me acostumei um pouco com isso. Com mentorandos que querem entrar numa call do Zoom comigo e ficar por horas, conversando sobre estratégia, crescimento, expansão, futurismo, autoconhecimento e tantas coisas mais. De estar usando meu tempo com pessoas que não só querem resultado, mas que estão de fato dispostas a fazer algo para isso.
Me sinto muito humilde ao lembrar de histórias de mentorandos que parcelaram por um ano a mentoria, que resolveram investir em si e em mim também. Já comentei aqui sobre a própria Yasmin, que trabalhava em um shopping, com um salário quase mínimo e ainda investiu em mim. Eu olho para a jornada dela desde então, e só sinto uma honra de ter estendido a mão e de ela ter pego minha mão.
De ela ter acreditado nela. De ela ter investido nela. De ela ter feito o que precisava ser feito. De ela ter estudado. De ela ter priorizado. De ela ter encontrado tempo.
Lembro, também, dos meus mentorandos com bolsa social - muitos dos quais eu nem lembro direito que tiveram a bolsa, porque depois que entrou, eu nem sei mais a diferença. Mas, ainda lembro as mensagens de alegria e euforia ao descobrirem que iriam participar.
Mas, já tive também mentorandos (tanto que pagaram, tanto que tiveram a bolsa) que não fizeram nada com isso. Eu consigo ver quando alguém acessou a minha área de membros pela última vez, e lembro de já ter perseguido mentorandos no meio da mentoria com lembretes do seu acesso e do calendário de atividades. Sabe, se inscrever na mentoria é só o primeiro passo.
Eu só abro a porta, além da pessoa entrar, ela tem que fazer algo com isso.
Essa constatação difícil, que mesmo pagando, as vezes, a pessoa não faz, me choca e entristece. Mas, também, mais uma vez, não me surpreende tanto assim.
É humano não dar valor para as coisas.
Sejam oportunidades, sejam até coisas que pagamos. Afinal, quem nunca comprou algo e deixou dentro do armário até com a etiqueta ainda?
Isso me ensinou que dinheiro não é a questão. Pode parecer ser, sim. Contamos histórias para nós mesmos de que é… mas talvez não seja bem por aí. Se pagando, alguns - poucos - não dão valor para minha mentoria… não é muita surpresa que de graça isso também fosse acontecer.
Aprender a navegar o resultado da observação de pessoas me intriga, me anima, mas as vezes me revolta também. Como que eu gostaria de fazer mais. De ajudar mais. De servir mais. As vezes, sinto vontade de ir na casa da pessoa e realmente ficar do lado pelo tempo necessário até que ela consiga ver o que eu vejo: um potencial, gritando para ser vivido.
Mas, também entendo, que eu só posso fazer a minha parte.
De abrir a porta do trem da oportunidade, de gritar para o mundo: ei ei, a porta está aberta!!!
E, de então, esperar.
Essa espera inclui receber de braços abertos quem entra, de entender quem recusa, de se frustrar por quem se sabota e de entender que essa é a vida.
Entender - por mais que doa - que as vezes,
nem de graça a pessoa vai fazer.
não só o que precisa ser feito,
mas de se permitir, de pelo menos, entrar nesse trem.
que está prestes a partir.
Porque depois que ele partir… aí sim, o trabalho de verdade começa.
E aí sim,
eu posso ir com tudo.
As inscrições para a turma 8 de mentoria estão abertas e você pode ver todos os detalhes nesse link. A mentoria começa dia 04/06 e te convido a pensar na possibilidade de eu me tornar sua mentora.
A porta do trem está aberta e ele está prestes a partir.
gratidão!