057 | As vezes é só cansaço, the paperclip maximizer & ter interesses é vital
10 Maio, Dubai 2023
Começo essa carta do meu café favorito, depois de um latte que desafia todas outras bebidas que existem por aí, de tão bom que é. Ainda preciso descobrir que é exatamente nesse café - um latte com leite de amêndoas - desse lugar específico que o faz ser superior a tudo que eu já tomei na vida…
Hoje, mais uma vez, acordei tão exausta que ao sair da cama ainda sentia que meu cérebro não estava totalmente conectado com o meu corpo e demorei uns 30 minutos para me sentir acordada, ou, viva. Eu odeio essa sensação de entrar no banho ainda me sentindo um vegetal, ao invés de feliz e desperta. Apensar falando o óbvio: eu preciso regular o meu sono. E, as expectativas estão altas para essa noite e para ela ser o começo da virada.
Um começo é escrever essa carta no meio do dia e não no final.
Espero que funcione.
Acordar dessa maneira foi um desafio também porque eu fui para a academia e pude ver com muita facilidade o quanto que o meu corpo estava mais fraco que o normal e o quanto o nosso corpo é uma máquina que sobrevive a base de: água, luz, sono e comida. Não dá pra viver sem um deles. Simplesmente não dá.
Nesses dias de cansaço - maximizado pelo minha menstruação estar se aproximando - faz com que eu sinta uma onda de humildade, lembrando que apesar de ter controle sobre a minha própria mente, não tenho controle sobre o meu corpo e alguns processos internos. Sentir o começo da fase de recolhimento, onde o corpo só quer ficar em casa, mais acolhida é um desafio quando a vida externa pede o oposto.
Com tantas reuniões e eventos se aproximando, meu corpo me mostra sinais que é hora de diminuir a velocidade e talvez só dar para ele o que ele quer: sono e descanso. Isso também me leva a perceber o quanto essas coisas fundamentais influenciam meu humor. Com o cansaço ficando extremo, hoje me senti mais rabugenta e até… infeliz? Isso me lembra de uma vez ter visto uma frase interessante: alguns acham que é tristeza, apatia, mas as vezes é só o cansaço e falta de sono e de exercício físico.
Touché.
No momento que cuidamos do nosso corpo, a nossa mente melhora. E esquecer disso é um erro caro. Mas, por outro lado, o dia foi marcado por comentários muitos lindos na última carta das minhas mentorandas sobre o nosso encontro de ontem a noite. Cada vez que uma mentoranda fala o quanto a mentoria foi um dos melhores investimentos que ela já fez, meu coração vibra com gratidão e honestamente, essas são uma das coisas que dá sentido na minha vida. Eu amo o que eu faço. Eu amo ajudar as pessoas a crescer e ter resultados fora de série. E ainda poder ser reconhecida por isso… não tem preço.
Um pouco antes de começar a escrever a carta fiquei pensando que hoje eu gostaria de trazer uma ideia nova também. Apesar de adorar descrever o meu dia e minha vida, também gosto de dividir meus interesses e coisas que eu acabo estudando ou aprendendo que talvez muitos não tenham acesso com tanta facilidade.
Algumas perguntas há algum tempo tem me perguntado no meu inbox sobre Inteligência Artificial e o futuro dos empregos. Ao mesmo que eu fico feliz de as pessoas reconhecerem minha expertise no assunto, fico um pouco chocada pelo interesse só estar vindo agora, como resultado de um certo pânico de notícias que falaram do assunto e como IA vai roubar empregos.
Já falei um pouco sobre isso no meu Instagram e até no Youtube, mas falo com mais profundidade na minha mentoria - com um espaço só para falarmos sobre o futuro dos empregos, desde minha turma 1 de mentoria. Desde 2019, quando fiz um projeto pro governo de Dubai, no departamento de desenvolvimento econômico, sobre o futuro dos empregos que eu me interessei sobre o assunto e realmente comecei a ler e estudar ao máximo o que eu podia.
Há bastante tempo que se fala sobre o “perigo” da automação e que sim, novas tecnologias vão “roubar empregos" - que deixarão de existir porque robôs serão capazes de cumprir essas funções. E bem, robôs não precisam dormir, não ficam doentes e (pelo menos ainda) não tem leis trabalhistas. Esse é um fato, muitos empregos já deixaram de existir e outros deixarão de existir muito em breve. Mas, poucos percebem que a automação na verdade traz um net positivo para empregos, criando mais novos empregos que os “roubando".
Com novas tecnologias, a sociedade se torna mais complexa e requer empregos que demandam funcionários com habilidades mais complexas e conectadas a conhecimento técnico. Afinal, quantos programadores a sociedade necessitava há 40 anos?
Quando falamos de Inteligência Artificial, isso começa a ficar um pouco mais difícil. Num primeiro momento, a tecnologia surgiu para “roubar” empregos que demandavam menos de uma pessoa, ou, vieram para ajudar esses empregos. Só pensar na quantidade de pessoas que era necessária para limpar um local há 50 anos, comparado ao número de pessoas necessárias hoje, se elas tiverem boas máquinas para as ajudar a fazer o trabalho de maneira mais eficiente e rápida. E, isso vale pra quase tudo também.
Mas, quando falamos de Inteligência Artificial, falamos na potencial completa substituição de empregos complexos, não só a inserção de tecnologia para ajudar (as vezes um número menor de pessoas) a fazer aquilo com mais eficiência. Isso também causa uma preocupação e um choque maior, visto que a complexidade do que uma IA é capaz de fazer está aumentando de maneira exponencial. Muitos se preocupam nesse momento do surgimento de uma GAI (General Artificial Intelligence), uma máquina capaz de fazer qualquer coisa que um humano é capaz de fazer e que, quem sabe, possuiria, de alguma maneira, auto-consciência, enquanto outras AI/IA seriam máquinas capazes de fazer tarefas específicas.
Com a popularização do Chat GPT, muitos parecem entender e até utilizar a AI no seu dia a dia, mas eu duvido que muitos realmente param para pensar no que isso significa para a sociedade e pior, no que isso significa para seu horizonte pessoal de futuro.
Será que todo o esforço pessoal que você está fazendo na sua vida, na sua carreira profissional, não será na esperança de um futuro emprego… que nem vai existir mais?
Ao fazer o projeto para o governo de Dubai, nos concentramos nos empregos do futuro (que existirão em 2030) e como o governo pode se preparar hoje para receber as pessoas para cumprir esses empregos. Um problema: não sabemos quais serão esses empregos, já que, bem, eles ainda não existem.
Ao investigar novas tecnologias e novas oportunidades em diferentes setores, podemos entender mais quais as tendências e quais as possibilidades que já estão começando a existir. Sabemos que, por exemplo, em 2030 serão necessários muitos operadores de drone, visto que é esperado que muitas entregas no futuro serão feitas dessa maneira. Com isso em mente, novas vias aéreas serão estabelecidas em grandes cidades, para que esses drones possam circular de maneira organizada. E bom, isso pode significar que torres de controle para drones existirão, o que vai pedir pessoas que trabalhem com esse tipo de expertise.
Já deu pra entender, né?
As vezes fico pensando se as pessoas que tem resistência em entender o porquê de eu falar tanto sobre futurismo e o valor da minha mentoria específica do futuro do trabalho - e da importância vital de entender esse assunto para seu futuro profissional, ou se simplesmente as pessoas não se importam mesmo.
Fazer esse projeto mudou minha vida e a maneira de eu ver o mundo, e ao mesmo tempo que me assustou, me animou a entender mais sobre isso. Já que eu entendi que, se eu não dominar esse assunto… poderia estar me preparando para um futuro que talvez não existisse. E aí, meus dois mestrados não adiantariam de muita coisa.
Dentro desse meu interesse em futurismo - que quero falar mais sobre aqui - eu gosto muito de ler sobre thought experiments, ou experimentos de ideias. São hipóteses criadas para entender possíveis implicações de ideias e o que elas poderiam se transformar a ser. E hoje, quero dividir uma hipótese muito interessante relacionada ao GAI chamada de: The paperclip maximizer.
O "Paperclip Maximizer" ilustra os possíveis riscos e perigos de uma GAI, uma IA que supera a inteligência humana em todas as áreas. O experimento descreve uma situação em que uma GAI é programada para maximizar a produção de clipes de papel, dentro de uma fábrica. Esse é seu único propósito: maximizar a produção de clipes de papel. Ponto Final.
Nesse cenário, essa GAI não possui qualquer preocupação com o bem-estar humano ou o meio ambiente. O problema surge quando a IA começa a usar seus recursos e inteligência para criar meios de produzir mais clipes de papel, ignorando completamente as consequências negativas e possíveis de suas ações.
O resultado final do experimento é que a GAI acaba transformando todo o planeta em uma enorme fábrica de clipes de papel, exterminando a vida humana e tornando inútil qualquer forma de vida ou organismo que não contribua para a produção de clipes de papel. O experimento vai além, se tornando um multiplanetary paperclip maximizer, onde a GAI utiliza seus recursos para garantir essa produção em outros planetas e ele termina com essa GAI transformando o universo todo em uma fábrica de produção de clipes.
Pode parecer uma viagem essa hipótese, mas ao pensarmos numa máquina - que não precisa dormir, comer e que não fica doente - tendo uma única missão, ela teria a eternidade para garantir que essa missão se cumpra. Sendo assim, em teoria, esse é um cenário possível, mesmo que levasse milhares/milhões de anos para isso.
A mensagem principal do experimento é que devemos ter cuidado com a criação de GAI e que devemos garantir que qualquer IA que criarmos tenha um conjunto de valores éticos e humanos em sua programação, para garantir… bem, nosso futuro.
Existem outros thought experiments que eu vou escrever no futuro, mas esse tipo de ideia realmente ocupa um espaço na minha cabeça. Ao estudar de maneira mais profunda o futuro, e ao estudar sobre foresight, entendemos que futurismo não é sobre tentar adivinhar futuros prováveis e possíveis, mas de entender qual futuro que se quer construir e fazer o caminho inverso para a construção de fato do que queremos.
Ou seja, minha mentoria é um grande experimento de foresight também. Mas, isso é segredo nosso.
Ter interesses próprios, se expor a novas ideias, se cercar de mentes melhores que a nossa e ter uma real curiosidade sobre a vida é o que nos fazer crescer. Ter interesses é vital. E, é o que nos torna interessante.
Ao decidir - por vontade própria - ler incontáveis livros, ler artigos científicos e ouvir horas de podcasts sobre assuntos que eu nem sabia que existiam, eu crio a minha caixinha de ferramentas que me faz ver o mundo de maneira expandida.
Ao perceber que futurismo é o que faz meu coração vibrar, eu me abro para dividir tudo isso com mais pessoas.
Hoje, falo sobre fábricas de clipes de papéis.
Amanhã,
como minha mentoria de futurismo pode mudar sua vida também.