Escrevo essa carta já tarde da noite, depois de ter voltado para casa já 5h da manhã - numa segunda-feira. Oh, Deus.
Hoje, foi mais um dia que o sono desregulado venceu e que a batalha ainda continua. Mas, as segundas-feira são sempre assim, já que eu tenho mentoria no domingo de madrugada. Apesar de esse sempre ser um dia um pouco mais lento e cansado, eu sempre começo a semana como uma energia tão boa. Eu realmente não lembro há quanto tempo que eu não sinto a famosa ansiedade/depressão de domingo a noite.
Já começar o dia trabalhando e embalando com a academia é um privilégio. Puxar peso e sentir meu corpo mudando está sendo uma experiência que eu sei que já mudou minha vida para sempre.
Por quase todo meu trabalho ser remoto, a minha relação com meu personal trainer é uma das raras relações profissionais que eu tenho ao vivo. E sabe, ter contato com ele, ver a maneira que ele fala, as interações entre os próprios personais (é assim que fala o plural?) realmente me mostra que talvez um dos meus super poderes seja a observação. É sútil, mas já entendi muitas dinâmicas internas da academia, um potencial medo do meu personal e como que trabalhar em grupo pode ser desafiador para algumas pessoas.
Ao mesmo que, lentamente, depois de mais de 15 sessões juntos, criamos uma relação não tão rasa, eu mantenho a minha distância. Apesar de já termos muitas conversas casuais e ter respondido algumas perguntas sobre mim, eu sigo aplicando algo que eu aprendi há muito tempo:
Uma pitada de mistério é fundamental.
Ao mesmo que eu mostro muito da minha vidas nas redes sociais e até aqui na newsletter, há um tempo, depois do término do meu último relacionamento, eu decidi que não dividiria mais minha vida amorosa nas redes sociais.
Paixões já vieram e já se foram sem que ninguém no meu Instagram visse rostos ou soubesse algo sobre nacionalidade ou origem. O que é uma pena, porque modéstia a parte, minha vida amorosa é incrível. Mas, manter essa privacidade é uma escolha que eu considero saudável. Eu não preciso contar tudo sobre mim. Pelo menos não para pessoas que eu não conheço com profundidade.
Já na mentoria, eu sempre dividi as histórias e os aprendizados. E meu Deus, como houveram histórias nesses últimos dois anos. Mas, ainda assim, sempre guardei um pouco pra mim, a cereja no bolo.
Sabe, alguns pequenos mistérios merecem ser guardados dentro de nós, como pequenos tesouros. Depois de já viver um pouco, entendi que não precisamos mostrar todas as nossas cartas, e que manter algumas informações de nós mesmos é vital para viver bem. Há um tempo vi num vídeo uma frase que eu guardei muito comigo: se hoje você adulta conta tudo da sua vida para pessoas que você nem conhece, é porque quando nova você não tinha ninguém para contar nada.
Wow.
Eu sempre fui um livro aberto - até demais. Contava histórias íntimas e anseios do meu coração para estranhos, as vezes já num primeiro contato. E depois de situações não tão boas, eu finalmente entendi que há uma beleza (e força) muito grande de manter algumas das facetas da nossa vida… um mistério. Reservado apenas para os mais achegados e íntimos - e olhe lá.
Acesso a certas partes da nossa vida deve ser uma conquista, onde apenas os justos e merecedores conseguem esse prêmio: acessar algumas partes tão preciosas da nossa vida. Alguns de nossos sonhos, reservados apenas para os ouvidos que realmente desejam nosso melhor. Alguns dos nossos anseios, reservados apenas para as pessoas prontas para acalentar nosso coração. E algumas das nossas preocupações, reservadas para os que tem uma mente sábia e podem iluminar o caminho.
Desenvolver essa capacidade de separar o que é aberto, público e o que é raro e que deve se manter privado é algo que podemos desenvolver com o tempo e pode ser uma batalha em tempos de redes sociais. Já pude viver coisas excepcionais, conhecer pessoas incríveis e acessar lugares que eu nem sabia que poderiam existir… e resolvi manter isso para mim, sem publicar um story ou contar para quem quisesse ouvir.
Poder viver essa pequena vida secreta, onde só eu (e um número muito limitado de pessoas) tem acesso ao que acontece me dá a sensação de que eu realmente estou vivendo uma vida extraordinária. Tão, mas tão extraordinária - que só eu sabendo disso, basta. Um pequenos segredo. Ser capaz de viver coisas e não sentir a necessidade de contar para todo mundo é libertador. É a sensação de que não falta, e álias, há de sobra.
E agora, com o sol já nascendo, olho para o dia que passou. De noite, fui buscar um amigo muito incrível no aeroporto e fizemos um turismo noturno pela cidade. A história de como nos conhecemos (ele é um empresário de 22 anos do interior do Paraná!) é muito incrível. Acreditem ou não, ele também já fez minha mentoria.
Mas, essa história vai ficar para um outro dia.
Afinal, um pouco de mistério…
é fundamental.