050 | O milagre da manhã, fazer o importante primeiro & bolsa social da mentoria
03 Maio, Dubai 2023
Escrevo essa carta de um lugar que apesar de não ser o melhor café de Dubai, tem o café mais delicioso. E num dia como hoje - você já vai entender - isso definitivamente basta.
O jetlag definitivamente ainda está por aqui e ontem, por alguma razão, eu consegui ficar viva até perto da meia noite. A minha ideia era que antes das 11h eu já estaria na cama, mas as 9h da noite eu tive minha reunião com a minha mentora pessoal, a Lari, que mudou tudo.
De verdade, eu olho pra trás e, as vezes, eu mesma tenho dificuldade em acreditar na nossa jornada juntas até aqui. Nos conhecemos há mais de uma década, mas nos reaproximamos apenas em 2021, quando eu mandei uma mensagem “do nada”, simplesmente pedindo pra ela ser minha mentora. Isso mesmo. Eu tive essa cara de pau.
A verdade é que eu sempre admirei ela, sua jornada e eu não poderia falar para as pessoas terem mentores (no caso, eu), se eu mesma não tivesse uma mentora também e vivesse a transformação de ter uma. E, a Lari, claro, também tem um mentor. E assim, a linha dourada de elos de pessoas se mantém. Como tem que ser pra quem quer crescer.
Cada encontro com a Lari é a abertura de um portal de algo dentro de mim, algo fora de mim e algo entre tudo isso. Além de minha mentora, a Lari se transformou em uma amiga pessoal, que foi vital em uma época difícil da minha vida em 2021. Nos encontramos - por uma reviravolta do destino - em Barcelona e menos de um mês e meio depois, eu estava no México para passar quase 2 meses com ela, viajando entre as duas costas do país. Essa viagem pro México mudou minha vida e foi muito, muito importante pra mim.
Hoje, nós duas estamos vivendo uma época importante e diferente das nossas vidas. Em nossa hora juntas (sagrada - sempre marcada nos nossos calendários), discutimos nossos planos, estratégias e apontamos para a outra potenciais pontos cegos. É uma troca sem igual e hoje também somos parceiras e já realizamos duas imersões online juntas, que - modéstia a parte - são sensacionais. Que sorte a minha ter cruzado o caminho com ela e que sorte a minha ter ouvido minha intuição para realmente adicionar ela na minha vida. Eu realmente não estou de papinho que todos deveriam ter mentores. É o diferencial. A vantagem. A troca. É tudo de bom.
O encontro de ontem me tirou o sono porque me ofereceu a claridade de algo importante e, olhando em retrospectiva, óbvio. Sabe, a vida realmente está aqui para nos amparar e nos ajudar, mas isso começa com a gente mesmo. E claro que o encontro terminou com a Lari me chamando pra uma viagem em cima da hora para conhecer um país que eu não conheço. Apesar de ainda não ter decidido se eu vou, eu fico pensando: porquê não?! Talvez eu tenha uma oportunidade tipo México 2.0 nas mãos…
Apesar de ter ido dormir tarde, achei que dormiria minhas 8h sagradas e finalmente entraria no meu fuso horário atual. Bye Bye Jetlag.
Ledo engano.
5h30 da manhã o meu corpo despertou. E, ao invés de tentar voltar a dormir, senti que era hora de mudar o script e de fazer algo com isso tudo. Eu simplesmente levantei. Abri minha janela e vi que o sol estava para nascer, tomei um banho, coloquei um shorts e uma camiseta e fui fazer minha caminhada. Comentei no último encontro da minha mentoria avançada - uma espécie de continuação da mentoria normal -, mas há algumas semanas eu passo a noite inteira ouvindo aúdios de reprogramação e eu realmente consigo ver/sentir o efeito deles quando eu acordo.
É bizarro como algumas ferramentas simplesmente… funcionam.
Ao sair de casa, senti aquele leve frio da manhã (que não durou muito depois que o sol saiu) e fiquei ouvindo música enquanto garantia meus passos do dia, já que tento ao máximo fazer no mínimo 15 mil passos diariamente. Coloquei uma música meditativa e tive uma ideia importante de algo que eu estava pensando.
A-ha.
Entendi a razão de ter acordado cedo.
Ver as ruas tão vazias mas tão lindas com o sol, as palmeiras e os prédios no estilo árabe fez com que eu me sentisse a menina mais sortuda do mundo. Eu amo esse lugar, amo minha vida, me sinto bem comigo mesma e estou vivendo a vida que eu sempre quis viver. Sabe, peço perdão se durante esse mês com muitas cartas eu ficar repetindo isso e se isso soa, de alguma maneira, um pouco arrogante. Na verdade, longe disso. É só que eu lembro (de maneira tão viva) o passado, onde tudo isso não era nem um sonho, de tanto distante que era pra minha realidade. Eu realmente, todos os dias, ainda fico impressionada, grata e um pouco assustada com minha realidade. De verdade: /como que eu cheguei aqui?
6h45 da manhã e eu já tinha feito 1h de caminhada. Sentei na minha mesa e lembrei de um livro muito bom chamado O Milagre da Manhã. Realmente, há algo de muito diferente quando acordamos cedo e já fazemos o que precisa ser feito no começo do dia. Por questões de diferença de fuso (minhas mentorias são a noite em Brasília), pelo menos um dia da semana eu vou dormir muito tarde. Isso foi me tornando uma pessoa mais noturna, mas percebi que me sinto no meu ideal quando acordo cedo e começo meu dia junto com o sol. Talvez o ciclo circadiano seja uma coisa, after all.
Também, lembrei da ideia de fazer a coisa mais importante e urgente do nosso dia primeiro. Estou há 3 dias selecionando os vencedores da bolsa social da mentoria e, honestamente, não estava conseguindo fazer o que precisava ser feito. Decidi que não sairia da minha mesa até concluir isso e 3h depois eu tinha a lista final com os nomes.
Sorri muito.
E respirei fundo.
A verdade é que escolher pessoas para uma bolsa de um projeto que eu sei que mudas vidas é uma responsabilidade. A mentoria custa o que custa porque ela vale. Na verdade, já recebi comentários dos próprios mentorandos que para o que ela entrega, ela é barata. Essa é talvez uma das razões dos meus mentorandos fazerem a mentoria mais de uma vez. E não é só pelo conteúdo, é pela energia de estar comigo nos domingos a noite e de estar cercada de pessoas que querem crescer e alcançar seus sonhos. Mas, também é importante para mim que a mentoria seja acessível a diferentes demografias e também a pessoas mais jovens que não tem apoio financeiro para participar. Por isso, ofereço bolsas completas e parciais com foco em mulheres pretas, comunidade LGBTQIAP+, indígenas e pessoas com deficiência.
Não vou mentir, ler o formulário feito por quase 60 pessoas diferentes é uma experiência e tanto.
Tantas histórias e tantos sonhos.
Algo que me chamou atenção foi o fato de que quase 10 pessoas comentaram que queriam ter aplicado para a bolsa no passado, mas que não tinham feito por não se sentirem merecedoras. Puxa. A mentoria é perfeita para essas pessoas. Quanto pra mais pessoas eu sou mentora, mais certeza eu tenho que a grande maioria das pessoas dá o não para si próprio primeiro, ao invés de deixarem isso pros outros. Muitos tem um sonho, mas nem tentam. Não aplicam para aquela bolsa que gostariam. Aquele emprego. Simplesmente paralisam.
Não é nosso trabalho dar o não para nós mesmos.
Repito.
Não é nosso trabalho dar o não para nós mesmos.
Saber que muitos dos nomes que aplicaram precisam do que eu posso entregar faz com que eu seja cuidadosa e leia e releia tudo que foi escrito. A verdade é que não existe muito algo objetivo que eu estou procurando. Claro, levo em consideração se a pessoa realmente demonstrou que tirou um tempo para completar as respostas, o nível de auto-conhecimento que ela já demonstra ter, suas expectativas para a mentoria e se eu vejo que posso ajudar de verdade. Mas, com tantas histórias inspiradoras e de superação, e sonhos incríveis, foi realmente uma tarefa árdua.
No fim, todas as mentorias de 100% foram pra pessoas que já tinham aplicado para a bolsa no passado. Foi minha forma de premiar quem me acompanha e quem demonstrou dessa maneira seu interesse genuíno de fazer parte da mentoria. Uma das ganhadoras estava aplicando pela terceira vez. Das bolsas parciais, um menino pediu 90% de desconto e me senti tocada pelo fato de que ele deixou de pedir a bolsa total para alguém que realmente não tinha como, e deixou claro que ele poderia pagar os 10% faltantes. Junto com uma aplicação excelente, senti um respeito pela mentoria e pelo o trabalho.
Sabe, eu respeito muito as pessoas que pagam o valor integral quando podem. Pra algumas, sei que é um investimento e tanto. Muitas, eu sei que parcelam no máximo de vezes, mas ninguém nunca reclamou ou pediu desconto. Sou muito grata pela confiança (muitas vezes repetidas) do dinheiro e do tempo de cada um. Principalmente o tempo. Dinheiro vem, vai e volta. Mas o tempo, não. E isso não é papinho. É só uma conclusão que muitos só chegam quando já é tarde mais. Tiro o chapéu para todos que tem coração de investir em si e se sentem abundantes e fortes por poderem fazer isso. E de deixar o espaço e as bolsas para o que - nesse momento - ainda não podem.
Precisei fazer a escolha e ela não foi fácil. Mas, também fiquei tranquila e calma porque sei que existem outros caminhos e que todos estão amparados. O melhor é inevitável e sei que o meu caminho sempre vai cruzar com o caminho das pessoas certas e na hora certa. Também mandei uma mensagem para cada um e alguma das respostas de quem não conseguiu me chamou atenção. Li, de um menino que vai estudar no exterior com bolsa, que ele ficou com medo de não ser bom o suficiente pela minha negativa.
Que engano, meu caro.
Ele tinha uma das melhores respostas, sem dúvidas. Mas, como comentei, dei preferência há quem já tinha aplicado mais de uma vez e que tinha colocado realmente esforço ao responder.
Eu realmente acredito que ficarmos batendo na porta, uma hora ela abre.
Mas, também por causa da generosidade das minhas mentorandas, pude dar mais bolsas parciais que o previsto. Poder estar cercada de pessoas tão incríveis faz com que eu não só acredite no bom do mundo, mas que eu possa o ver com meus próprios olhos todos os dias. Como que posso acreditar que minhas próprias mentorandas estão pagando para que outras pessoas possam viver isso também? Dando bolsas do seu próprio bolso? Para completos estranhos?
Um amigo fez um comentário pertinente pra mim: é sobre subir o elevador, mas voltar para buscar outras pessoas.
Bem isso, Leo. Bem isso.
Depois de todas as mensagens enviadas, respirei fundo. Existe algo de muito poderoso em já ter resolvido a parte mais complexa do seu dia antes do horário do almoço. A energia de completude, de retidão e alinhamento é realmente mágico… milagroso. Estou convencida que manter essa postura por tempo suficiente traz todos os resultados que desejamos.
É literalmente o plantio bem feito. Com o sol como guardião.
Mas, como ainda sou humana, um pouco antes do almoço eu simplesmente desabei por 30 minutos e acordei sem nem saber onde eu estava. Ai ai jetlag, estou pronta pra te liberar do meu sistema. Xó!
Depois, almocei rápido e fui pra academia.
Taí uma frase que eu jamais falei em qualquer outra época da minha vida. Ter pago para ter acesso a uma academia (e a um personal!) está sendo o melhor investimento da minha vida. Não é nem tanto pelo resultado no meu corpo e as mudanças - que estão vindo, lentamente, mas estão vindo - mas pelo o meu comprometimento comigo mesma e com essa nova versão que eu estou construindo. Hoje, comer bem e limpo não é algo diferente, é a norma. E não por imposição, mas por escolha. É uma nova versão que está surgindo, da qual eu amo e a respeito.
E a escolho. Todos os dias.
Depois de voltar para casa com as pernas tremendo - leg day! -, me arrumei e vim para esse café onde estou há algumas horas trabalhando e agora escrevendo. Realmente, eu precisava de um café bom e potente. O café se tornou um gatilho pra mim. Ir para um café trabalhar não é só uma coisa legal, um sonho que eu já tive. É uma ferramenta para garantir horas de deep work que são energizadas pela cafeína. É uma espécie de ritual que traz uma certa energia pra minha vida da qual eu amo.
E com o sol já se preparando para sumir, o meu dia já está também quase completo. Que delícia poder olhar para a minha lista de atividades do dia de hoje e já ver o quanto que foi feito. De que eu tenho minha mentoria já na oitava turma e de que eu posso dar bolsas para as pessoas que devem participar, mas realmente não tem como. O dinheiro jamais deve ser impeditivo de nada.
Sabe, eu não sou a favor da ideia de ligarmos nosso valor pessoal a nosso nível de produção. Nosso valor é sobre quem somos. Ponto. Não ao que fazemos. Mas, também não posso negar o quanto eu me sinto com força, energizada e alinhada depois de um dia disciplinado. Depois de um dia com uma rotina que me dá energia, ao invés de uma rotina que me tira energia.
Começar o dia de hoje bem cedo e já fazer o mais importante primeiro me mostra que a manhã pode ser milagrosa.
Não só para nossa efetividade,
mas pro nosso coração também.
Lendo de novo, porque essa carta é maravilhosa. <3
Essa carta me tocou, estou emocionada!