046 | Segundo dia de ECOSOC, Missão Permanente dos UAE para a ONU & Conexão com milagres
27 Abril, Nova York 2023
Escrevo essa carta novamente de um café, a caminho do terceiro (e último) dia de evento enquanto ainda reflito sobre o dia de ontem e divido com vocês um pouco do que aconteceu.
O dia começou comigo atrasada mas com um sol do lado de fora que me fez muito bem. É muito forte o quanto que ter um céu azul sob minha cabeça faz toda diferença no meu dia e como que eu me sinto internamente também. Poder comprar um café saindo do Grand Central Terminal (um lugar que eu via em filmes) e ir caminhando até o a ONU é surreal e faz com que eu me sinta estranha, grata e com uma energia de que tudo é possível.
A manhã foi com encontros regionais onde jovens líderes discutiram problemas e soluções de seus continentes e foi muito interessante poder ver a liderança jovem brasileira representando nosso país. A fala de Ronald Luiz dos Santos, nosso Secretário Nacional de Juventude realmente me inspirou, principalmente quando ele falou que o Brasil está de volta - ao protagonista internacional - e eu realmente pude sentir isso. Foi demais poder participar do painel em Espanhol e entender tudo também e ver os frutos de ter investido nessa língua há tanto tempo atrás. Sabe, línguas abrem as portas do mundo para gente.
O intervalo do almoço foi corrido, para dizer o mínimo. Fui para a sede da Delegação da União Europeia para a ONU para participar do começo do workshop sobre “Skills for Inclusive and Decent Work in Africa’s Digital Economy” mas não consegui ver quase nada porque corri para outro evento que iria acontecer quase ao mesmo tempo, algumas quadras dali, na Missão Permanente dos Emirados Árabes Unidos para a ONU. Na verdade, todas as missões permanentes dos países ficam ao redor da ONU, ocupando um grande número dos prédios que você vê na área.
Poder estar naquele ambiente fez com que eu me sentisse estranhamente em casa. Não sei explicar, mas consigo reconhecer a arte que está nas paredes e também as pessoas - algo bem de energia mesmo. Fui lá para participar de um evento em preparação para a COP28 que irá acontecer esse ano em Dubai. Vários ativistas climáticos jovens estavam lá e eu senti de verdade que estar naquele espaço, naquele momento, era uma das grandes razões para eu ter vindo para Nova York.
O evento começou com uma ativista indígena do Alasca pedindo para todos se levantarem para que pudéssemos abençoar aquela sala. Na hora já senti a resistência de algumas pessoas ao meu redor que não estavam acostumadas com energia e que para elas esse pedido poderia ser bem estranho. Mas, não foi para mim. Ela, então, começou a cantar uma das canções mais lindas que eu já vi na minha vida. A voz dela era indescritível e eu realmente senti todas as benções que estavam acontecendo ali.
Não sei bem explicar, mas eu senti um banho de energia muito forte e realmente senti que algo importante estava acontecendo naquele momento. Na hora, lembrei do Magic April e foi exatamente isso que eu senti. Será que era possível que toda minha jornada de Abril foi também para me levar para aquele lugar, para que eu pudesse fazer parte daquilo tudo?! Uma palavra ficou pulsando na minha mente: milagres. Eu me emocionei muito e senti uma grande onda de gratidão invadindo meu peito.
Ela, ao terminar, nos avisou que ela havia recebido permissão de sua irmã para cantar aquela música tradicional de seu povo e que aquela era uma música muito especial, pois era usada para chamar milagres - pois os ativistas climáticos realmente estavam precisando de mim. Eu quase chorei ali. Eu senti aquela energia e eu sabia também que o que estava acontecendo energeticamente naquela sala era tão (se não mais) real do que estava acontecendo na frente dos meus olhos.
Ela falou sobre sua terra, contou uma história de seu povo sobre a conexão humana com a natureza e eu realmente me vi naquela tudo. Estamos aqui na ONU discutindo assuntos importantes, futuro da humanidade, ODS e sustentabilidade mas não podemos esquecer da nossa relação com a terra que habitamos e o porquê fazemos tudo que fazemos. Me senti conectada, aterrada e feliz. Foi um dos momentos mais especiais que eu já pude participar e eu ainda não entendo como que tudo isso aconteceu na Missão Permanente dos Emirados, na ONU e eu, de alguma maneira, estava ali fazendo parte de tudo isso.
Ah, acreditam que nesse evento eu ainda encontrei jovens ativistas que estão aplicando pro DBA - o programa que eu participei em Dubai? Eles não acreditaram que eu tinha feito o programa e ficaram muito animados em me conhecer. Adorei poder trocar um pouco com eles e dividir mais sobre minha experiência no programa!
O resto da tarde foi de volta a ONU para mais painéis sobre recuperação da pandemia, e também sobre financiamento do futuro e o ODS 17. Participaria de um evento na Missão Permanente da Turquia mas ele foi cancelado de última hora. Encontrei, também, uma brasileira que está aqui representando uma organização sobre a água e ela moderou um painel também. Ela está fazendo seu PhD em Minas Gerais e está se especializando em Meio Ambiente. O mais interessante? O background dela é Engenharia e não Relações Internacionais. Ah, como eu amo isso! Estar cercada de pessoas brilhantes e que estão fazendo sua parte. Dividi com ela algumas oportunidades internacionais e foi muito legal o papo que tivemos, eu realmente adorei!
Estou aprendendo muito aqui, mas também observando. É muito interessante estar num evento para jovens mas estar na cúspide da juventude para o mundo “adulto". Por já ter mais experiência que muitas pessoas ao meu redor, consigo ver movimentos com olhos que eu considero um pouco mais sábios e ando me questionando muito sobre muita coisa. Consigo ver a minha versão 4/5 anos mais nova, de quando vim pro meu primeiro evento aqui na ONU nos jovens que estão aqui. Uma ansiedade de provar seu valor e ter sua voz ouvida.
É interessante também que todos aqui ao se apresentarem, falam o seu nome e em seguida já falam de suas conquistas acadêmicas e suas credenciais. Claro, não estou criticando - é o jogo que está sendo jogado. Mas há no ar uma ansiedade da qual eu simpatizo. Jovens estarem ocupando esses espaços é mais do que importante, é vital. Mudou a minha vida no passado e sei que está mudando a vida de muitos aqui também. Novamente, apenas gratidão por essa oportunidade de conhecer, aprender, dividir e compartilhar.
De noite, pude encontrar novamente a Renata - que está de volta - no West Village e parece que eu fui vivi 3 dias em 1. De repente, em algumas estações de metrô, parecia que eu estava em outro planeta. No bairro mais charmoso e pitoresco, jantando em um restaurante que tem exatamente a vibe de filmes que vemos com uma das minhas melhores amigas, depois de ter passado o dia na ONU e ter recebido a benção de uma indígena do Alasca. Sem falar em poder ter dividido minha experiência em ter feito um programa em Dubai, com patronagem do Sheikh, um programa que um dia já foi um sonho muito (muito) distante, na missão permanente dos Emirados… na ONU.
/como que eu cheguei aqui?
Ao olhar para o dia de ontem, percebo que sonhos realmente se tornam realidade, das maneiras mais diferentes que podemos imaginar. Mas, sinto uma gratidão sem tamanho no meu peito.
Hoje, tenho mais um dia pela frente, mais uma oportunidade de fazer meu melhor e tentar aprender e dividir o máximo que eu puder.
Hoje, mais uma vez, só consigo fechar meus olhos, agradecer baixinho e convidar:
-milagres, vocês são bem-vindos.
Pode chegar,
estou pronta.