044 | Nova York, reencontro com Renata, madness no Balthazar & de volta a ONU
24 Abril, Nova York 2023
Escrevo essa carta do meu café favorito aqui em Nova York e honestamente, ainda não caiu completamente a ficha que eu estou aqui - pela razão que eu estou - e que eu tenho um café favorito nessa cidade.
/como que eu cheguei até aqui?
Os últimos dias foram uma mistura de sonho e realidade e acredito que vou precisar de um tempo para digerir tudo ainda. Essa viagem para Nova York estava marcada há mais de um mês, mas ainda foi surreal embarcar num voo direto (de quase 15h!) de Dubai para Nova York. Como que eu vivo uma vida em que Dubai é minha residência e Nova York um lugar que eu já fui mais vezes que eu posso contar? Que eu conheço bem essas duas cidades?
Poder andar por essas ruas e ver os taxis amarelos, os prédios gigantescos e os parques da cidade realmente mexe comigo. Algo que já foi tão distante é minha realidade. No meu primeiro dia, andei mais de 30 mil passos. Fiz quase que toda downtown a pé. Queria ver todos os cantos da cidade e existe maneira melhor de aproveitar essa cidade do que simplesmente… andar?
No dia seguinte, a Renata chegou aqui para me encontrar. Convidei ela para essa viagem assim que eu soube que eu viria, mas ela não podia vir. Mas, o universo funciona de maneira interessante e duas semanas atrás, por causa do trabalho dela, ela soube que teria que vir para os Estados Unidos para um evento - e com passagem e tudo mais pago - bem nas datas que eu estaria aqui. Voilá. Aqui ela está.
Conseguimos aproveitar o final de semana, fomos no MoMa, vimos o Monet (de novo!) e aproveitamos o Soho também. Sendo sincera, apesar da beleza da cidade, Nova York é uma cidade agressiva e vimos algumas cenas que nos fizeram repensar o quanto que realmente vale a pena ficar nessa cidade. Não me entenda mal, há muita coisa boa acontecendo aqui e é um privilégio poder viver essa cidade, mesmo que por uns dias. Mas, é agressivo ver pessoas machucando outras pessoas no metrô sem nenhuma razão aparente e fazia muito tempo que eu não me sentia tão exposta e… com medo.
Viver em Dubai realmente mudou minha vida e a maneira que eu vejo o mundo. Recebo perguntas frequentes sobre ser mulher e morar em um país do Oriente Médio, mas, sendo sincera, é um dos lugares que eu mais me sinto segura no mundo. Eu nem penso sobre minha segurança física lá - algo que é garantido. Estar de volta aqui é um lembrete que isso não é uma realidade em outros lugares do mundo. E isso machuca e me faz pensar sobre minhas prioridades, valores e o que eu quero pra mim.
Mas, mesmo um pouco apreensiva, exploramos as ruas e bairros dessa cidade tão cheia de opção. Pude, também, levar a Renata pro meu restaurante favorito daqui - que minha irmã que me introduziu. O Balthazar é um restaurante famoso na cidade, especialmente por ser um local que muitos famosos frequentam. No final do ano passado, quando eu fui com minha irmã, pude ver o Eddie Redmayne - ator dos Animais Fantásticos - e dessa vez, com a Renata, vimos um ator chamado Damian Lewis, que fez Homeland, a série favorita da minha mãe!
É um restaurante bem no centro de Soho que tem uma energia meio clássica, mas meio caótica também. Música no fundo, mas com uma comida deliciosa por um preço justo e é simplesmente a vibe que eu gosto da cidade - e que eu indico muito. Mas, ao estar dentro do restaurante, percebemos o quanto que essa cidade oferece estímulos audiovisuais e o quanto que isso as vezes pode ser… overwhelming.
Depois, descemos em direção a uma das partes favoritas da cidade: Battery Park! Poder andar por ali, com a vista pra Estátua pra Liberdade, ver as árvores, os locais caminhando seu cachorro e poder aproveitar aquele canto da cidade que eu realmente me conecto é um privilégio. Sem falar no silêncio! Poder experienciar algo diferente do buzz da cidade é uma pausa bem-vinda. Dividir esse momento com a Renata do meu lado, enquanto vivemos a vida que já sonhamos juntas há quase uma década é de tirar o fôlego.
Sabe, desejo pra todo mundo amizades assim. Já contei, mas nos conhecemos durante meu intercâmbio de trabalho na Disney, em Orlando, na parada de ônibus do nosso dormitório enquanto falávamos do nosso sonho de viajar o mundo. Ficamos amigas muito rápido e 9 anos depois, nada mudou. Nosso sonho ainda é viajar ao redor do mundo, mas hoje, não é mais sonho.
Tivemos um longo papo sobre como que chegamos até aqui, quais características que nos ajudaram a estar ali, naquele lugar, vivendo tudo isso. Chegamos a conclusão que talvez hoje as pessoas de maneira geral não tem muita paciência de procurar, pesquisar e plantar - pelo tempo que for necessário - para viver o que elas querem viver. Não é fácil transformar projetos em realidade, mas é o passo necessário para que se possa viver o que se quer. É o preço que se paga.
Domingo de noite, voltei pro hotel de onde realizei minha mentoria. Foi o nono encontro da minha turma 7 - o meu encontro favorito. Depois de oito encontros, onde falamos de mundo interno e mundo externo, ajudei meus mentorandos a construir o design de suas vidas. A escrever suas definições únicas e pessoais do que é sucesso autêntico para cada um. Sabe, nesse encontro eu senti uma gratidão tão profunda. Minha mentoria já foi um sonho distante e hoje estou aqui, na minha sétima turma e com a oitava turma abrindo as inscrições.
Como que eu posso acreditar que eu tenho mais de 250 mentorandos ao redor do mundo? Que no meu dia a dia eu recebo tantas mensagens com seus resultados - e que eu participei disso?
Ter acreditado em mim foi a melhor coisa que eu já fiz nessa vida. Acreditado que eu poderia ter esse projeto, que ele tinha valor e que ele poderia ter um impacto grande na vida das pessoas que acreditassem em mim. Gratidão não expressa o que eu sinto por cada uma dessas pessoas que deixou a sua vida ser tocada pela minha de maneira tão profunda e por tanto tempo.
O que me faz feliz e realmente me preenche é poder servir os seus sonhos. Espero que eles saibam disso.
O dia hoje começou cedo. Renata já pegou o avião para seu evento e escrevo isso depois de ter passado, hoje de manhã, na ONU para pegar minha identidade de acesso pelos próximos dias. Acredite ou não (ainda estou me beliscando!), vim para a cidade para poder participar de um evento aqui, o ECOSOC Youth Forum - Forum da juventudade do Conselho Social e Econômico da ONU. Nos próximos três dias estarei nos headquartes da ONU representando a sociedade civil jovem.
O Fórum tem como objetivo discutir a recuperação do COVID e a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Iremos analisar o progresso dos ODS 6, 7, 9 e 11 e 17 também. Serão centenas de jovens de diferentes partes do mundo e posso dizer que estou muito animada - sem falar em feliz, de ainda ser considerada jovem!
Acho que se eu voltasse no tempo e contasse para a Ana que estava começando a faculdade de Relações Internacionais que eu viria para a ONU em Nova York ela choraria de emoção e talvez nem acreditasse com tanta facilidade. Como que eu posso falar que estou no meu terceiro evento aqui? Que eu conheço os salões e corredores da ONU razoavelmente bem? Que eu viria pela primeira vez em 2015, depois 2017… e agora?
Poder estar aqui, de volta, serve como um lembrete de uma parte de mim lá de trás. Ao pegar meu acesso pros próximos dias, na sede de identidades da ONU mesmo, vi a foto do António Guterres na parede (atual secretário geral) e lembrei de mim com 15 anos. Lembrei do grande impacto que Sergio Vieira de Mello teve em mim e na minha escolha do curso baseado na minha vontade de me conectar com o mundo, de ajudar a humanidade e de falar sobre problemas importantes do mundo. Como posso explicar a conexão que eu sinto com alguém que eu nunca conheci? Fecho os olhos e agradeço. Por ter tido a minha vida tocada de maneira tão profunda por alguém que nem está mais aqui.
Hoje, estou aqui, vivendo uma vida diferente que achei que viveria - e que bom. A Ana de 15 anos nem sabia que ela poderia decidir se tornar uma empreendedora e que ela poderia trabalhar de um computador pelo mundo. Que ela poderia ter projetos pessoais como a mentoria e que ela conheceria pessoas tão incríveis ao redor do mundo.
Ainda tenho alguns dias por aqui e me permito me abrir para a mágica acontecer. Para encontras as pessoas certas, para caminhar pelos corredores certos. Mas, já sei que só por estar aqui, por me conectar com a ONU e estar dentro dessa organização que deu forma a minha vida, muita coisa já está acontecendo.
Fora e dentro de mim.
Sabe, a vida foi feita para isso. Para sonhar e fazer algo com isso. Para viver esses sonhos. E para crescer e se expandir no caminho. E no caminho, (re) descobrir novos sonhos.
Hoje, vivo a vida dos meus sonhos. Hoje, também me questiono sobre tudo e minhas escolhas até aqui. Hoje, mais uma vez, decido confiar na vida. E em mim.
Que você decida por esse caminho você também.
Vale a pena,
eu prometo.
Fico muito feliz de ver voce realizando seus sonhos! gratidão por compartilhar ❤️🙏🏽🥰