Escrevo isso de um café que eu raramente frequento, mas do qual eu tenho uma memória afetiva bem interessante, que mostra pra mim mesma o poder de acreditar e de entender o poder de uma das coisas mais poderosas que existe: o tempo.
Hoje, gostaria de escrever sobre um conceito que eu aprendi há uns 2 anos com um investidor anjo que eu considero uma das grandes influências da minha vida, o Naval Ravikant. Em suas diferentes participações em podcasts e também no livro baseado nas ideias de Naval (muitas das quais ele mesmo fala que não são ideias originais) ele comenta sobre jogos de soma zero.
Num primeiro momento, pode parecer um conceito alienígena ou confuso. Como se a ideia de simplesmente entender e falar sobre isso fosse algo complexo e distante para a maioria de nós. Mas não é. Eu prometo. Fique até o fim.
Esse conceito vem da teoria dos jogos, uma área de estudo dentro da matemática que fala sobre as interações de agentes racionais e suas estratégias.
Parece complexo, mas não é. Calma.
Quando pensamos em jogos de tabuleiro ou de cartas entre duas pessoas, conseguimos entender que ambas pessoas querem vencer esse jogo e que para isso irão desenvolver suas próprias estratégias com as cartas/ferramentas que elas possuem. O que ambas querem é claro: vencer.
E isso é um jogo de soma zero. Quando pensamos em uma jogo que tem uma vencer, obviamente uma pessoa vence (+1) e uma pessoa perde (-1), sendo assim, ao somarmos temos zero.
Naval comenta como que muitos de nós estamos vivendo jogando o jogo errado na vida, focada apenas em um jogo de status na sociedade - que não é necessariamente o único jogo disponível. Pessoas usam seu tempo, recursos e esforços para ter mais de coisas que elas não querem para impressionar pessoas que ela nem gostam. Se preocupam em acumular para mostrar para os outros o seu sucesso. Ele chama isso de “sinais”, onde um relógio ou carro específico servem de sinal específico para a sociedade, que tem como base alocar as pessoas em rankings tendo como base esses sinais.
Essa é a ideia central desse jogo de soma zero, o jogo do status.
Quando usamos nossa energia em jogos dos quais há um vencedor e um perdedor, estamos ou nos sentindo mal quando sentimos que não estamos ganhando, ou nos sentindo bem (de maneira falsa e superficial) quando nos sentimos ganhando. É um jogo de comparação que inevitavelmente leva as pessoas a uma sensação ruim e de vazio, não importando o resultado no longo prazo.
É justamente daí que vem a sensação da qual eu recebo mensagens sobre quase que diariamente: “Ana, me sinto atrasada". Me pergunto quanto sofrimento isso não causa nas pessoas. Essa constante medição de si mesmo e de seu valor, baseado em histórias contadas nas redes sociais e expectativas irreais de uma sociedade que quer apenas duas coisas de você: que você produza e que você compre.
Esse jogo de status e jogos de soma zero vão te levar apenas a uma conclusão: você só será bom o suficiente se ganhar - e se continuar ganhando. Ao se permitir entrar e jogar jogos assim, você estará sempre ou se sentindo mal por estar “atrás” ou se sentindo bem por acreditar que de alguma maneira você está na frente.
Um jogo perigoso, que denomina diferentes valores para pessoas baseados em aspectos que eu, particularmente, acredito que sejam irreais. E olha que eu amo produtividade e resultados, mas estou aprendendo a me desprogramar de acreditar que meu valor pessoal está atrelado ao quanto eu consigo produzir.
Aprendi da maneira difícil que a vida real não é um jogo de soma zero. Ou que pelo menos não precisa ser. Conto essa história na minha mentoria, mas com 27 anos recém feitos eu morava num hotel 5 estrelas de Dubai, com patronagem de um Sheikh, trabalhando pra um governo do Oriente Médio, com 2 mestrados internacionais no bolso, falando chinês e mais.
E quer saber o mais louco?
Não era o suficiente.
Não foi o suficiente para eu me sentir bem, feliz e completa. Eu segui toda a lista do que eu acreditava que era sucesso e apesar de ter atingido tudo que eu sonhava, ainda faltava. Eu sentia fome. Não estava satisfeita.
Aprendi da maneira mais dolorosa possível do poder da autenticidade e de abrir mão de jogos de competição, para entrar no único jogo que importa: o de nós com nós mesmo. O de tentar ser melhor todos os dias baseado única e exclusivamente na nossa versão de ontem. E entender que esse “ser melhor” significa ser mais altruísta, saber dar mais do que receber e principalmente saber estar em maior alinhamento.
“Qual vida que eu quero de fato viver?”
Poucas pessoas pensam sobre isso. Elas apenas começam a jogar um jogo das quais elas nem entendem que podem sim desistir e isso não as fará uma perdedora. Apenas as fará ser alguém que não joga jogos de soma zero.
Nesse jogo interno, de expansão e lucidez, me permito jogar um jogo de soma positiva. Onde ao me permitir viver minha autenticidade, eu posso ganhar muitas coisas boas enquanto outros também ganham com isso.
Ah, que linda a possibilidade de viver o milagre de 1 + 1 > 2.
Talvez seja isso que devamos priorizar em nossas vidas: ter a lucidez de entender quais jogos eu decido jogar, quais os jogadores e como vencer. E ter a força interna de escolher por jogos que todos possam vencer e se beneficiar.
Abrir mão da competição pode ser uma desafio.
Mas,
talvez seja um caminho para a liberdade.