Escrevo essa carta sentada em uma das salas do aeroporto de Guarulhos.
Há tempos estou para escrever uma carta nova, e sendo sincera, algumas já foram começadas mas não terminadas. Mas, ao estar aqui, não posso evitar de querer escrever o que eu estou sentindo nesse exato momento.
Toda vez que eu chego no aeroporto de Guarulhos eu sou submersa em uma tsunami dos mesmos sentimentos: deja vu, gratidão e uma leve confusão. A minha primeira vez pisando na sala de embarque internacional desse aeroporto foram há exatos 10 anos, em novembro de 2012, onde estava indo para meu intercâmbio da Disney. Na época, aliás, a sala de embarque internacional ficava onde é a sala de embarque nacional.
Acho que assim como esse aeroporto cresceu, eu cresci junto. Lembro exatamente do nervosismo de anos atrás, de não saber o que me esperava e da forte sensação de que algo muito grande estava a minha espera.
Os anos se passaram e sendo sincera não tenho a menor ideia de quantos voos internacionais já peguei saindo desse aeroporto. Umas duas dezenas? Mais?
E é justamente isso que eu não consigo me acostumar completamente.
Como que eu - vindo de onde eu vim - vivo uma vida em que eu perdi as contas dos voos? Que em 2018 teve que fazer um novo passaporte depois de meros 3 anos pois perdi uma viagem pela falta de páginas livres para um novo visto? Que mesmo pós pandemia, conseguiu viajar para 17 países só nesse ano?
Cada detalhe desse aeroporto tem memórias. Cantos que eu fiquei no meu computador enquanto esperava o tempo passar, os restaurantes de sempre (e a clássica Pizza Hut pré-embarque) e também as poltronas que eu já derramei lágrimas por diferentes homens que estavam deixando a minha vida - infelizmente, uma realidade.
Já tive essa conversa com minha mãe milhares de vezes, afinal, o que me ajudou a chegar aqui? A melhora da condição financeira da minha vida? Claro, mas conheço pessoas com muito (muito mesmo) mais dinheiro que eu e que não viajam que nem eu, nem perto. O que me levou a conseguir construir uma jornada que uniu cada viagem, cada destino, cada pessoa, como pequenos nós em uma corrente na minha vida?
Não tenho muitas respostas. O fato de por décadas a minha mãe ter trabalhado em um aeroporto ajuda. Ver as pessoas indo e vindo deixa essa vida nômade um pouco mais natural. O fato de eu ter me apaixonado pelo outro lado do mundo (literalmente) na Ásia, deixa o resto do mundo mais próximo. Ter feito amigas e companheiras que conhecem mais de 50 países faz com que eu me sinta mais normal.
Mas existe algo difícil em colocar em palavras que acontece na minha vida, algo que eu sinto de maneira profunda nesse local, cercada de pessoas do mundo inteiro que estão indo e vindo para os mais diferentes pontos do globo.
Algo que me impulsiona a continuar indo, cada vez melhor e mais feliz.
Hoje, embarco para um destino familiar, um destino que um dia já foi um outro sonho distante, quase impossível, mas que hoje considero minha casa. Sabe, sonhar é bom, mas viver esses sonhos é ainda melhor.
Gratidão não expressa bem o que eu sinto ao olhar para minha vida, os aprendizados, e ver que o que eu vivo hoje era inimaginável para a Ana que pisou aqui pela primeira vez há uma década. A vida tem força para abrir os caminhos mais improváveis.
Para tornar os sonhos mais distantes… mais próximos de nós,
e até, quem sabe,
muito familiares também.
"A vida tem forças para abrir os caminhos mais improváveis."
Essa carta é cheia de emoção, e eu senti isso junto. ❤️
Você nao imagina como essa carta mexeu comigo e fico pensando constantemente como seria eu longe de todos que amo, mas seguindo meu destino e carreira.