Escrevo essa carta de uma escrivaninha muito charmosa, cercada de livros, de um apartamento em Florença, na Itália. Já passa da meia noite e eu acabei de chegar na cidade.
Os últimos dias foram emocionalmente turbulentos, e em um momento de silêncio e reflexão, percebi que escrever me trazia a sensação de estar no fluxo e a paz no meu coração que eu tanto aprecio. Com isso em mente, os textos têm aumentado de periodicidade.
E não, isso não é uma coincidência. Com o meu aniversário chegando, sinto a necessidade e vontade de compartilhar o máximo que eu posso, com a melhor qualidade possível sobre a minha vida, pensamentos, conhecimento e jornada.
Hoje, mais cedo, recebi um e-mail bastante esperado: as minhas fotos analógicas estavam prontas! Ainda na Estônia, em Tallinn, eu havia colocado meus rolos de filme para revelar - um processo que, dependendo do rolo, demora mais de uma semana. Ao olhar para o resultado das fotos, senti uma vontade de dividir mais sobre essa atividade que é mais que um hobbie - é uma expressão de partes profundas de quem eu sou.
A fotografia analógica foi introduzida na minha vida pela minha amiga Fernanda, em Seoul, entre 2017-2018. Ela havia comprado a sua câmera analógica e ao ver os resultados das primeiras fotos que ela tirou de mim, eu me senti extremamente atraída não só a qualidade do resultado final, mas também a emoção de ter que esperar as fotos serem reveladas.
Em um mundo tão acelerado, onde podemos tirar quantas fotos queremos a qualquer momento, a ideia de ter apenas uma chance para tirar uma foto e ter que esperar pelo resultado é uma quebra de paradigma e um convite. Um convite para o inesperado, um convite para abrir mão do controle.
Como não sei a idade de quem irá ler essa carta, não sei se há alguém que viveu apenas no mundo digital. Mas, uma câmera analógica é uma câmera que como o nome sugere não possui componentes digitais. Ou seja, não há nenhum cartão de memórias. As memórias ficam “impressas” nos rolos de filmes de 35mm, que normalmente tem 24 ou 36 poses e podem ter especificidades próprias, como diferentes iso, cores e mais. Cada tipo de rolo comprado vira uma experiência, já que os resultados podem variar muito!
As primeiras máquinas fotográficas comerciais surgiram cerca de 1840, e eram muito diferentes das que conhecemos hoje, sendo uma espécie de caixa preta. Mas, o começo da fotografia é mais antigo. Esse vídeo (em inglês) conta mais sobre a história da fotografia.
Inspirada por Fernanda, compro minha primeira câmera analógica de plástico em 2018, em uma viagem no Japão. Foi uma espécie de teste - eu queria sentir se esse tipo de hobby realmente seria para mim ou se seria apenas uma moda passageira que eu ficaria entediada rapidamente. Bom, em pouco tempo eu entendi que eu amava cada parte do processo, e finalmente em 2018 eu comprei minha primeira (e atual) câmera analógica mais profissional.
O processo de compra da câmera não foi tão fácil, já que eu comprei uma câmera usada e vintage da marca Pentax produzida em 1973. Sim, a minha câmera tem quase 50 anos! O modelo que eu comprei foi o mesmo que minha amiga tinha, uma Pentax Spotmatic F, e eu consegui comprar online em um site chinês. Na época, paguei o equivalente a 100 dólares. Lembro claramente a minha emoção de receber a caixa e ver que o vendedor tinha me mandado acessórios que eu não tinha ideia de como usar.
Sabe, ter uma câmera tão antiga me faz pensar sobre como os artigos antigamente eram feitos com materiais de qualidade e feitos para durar. A minha câmera é de metal e eu tenho certeza que ela facilmente durará mais algumas décadas.
Também penso sobre o antigo dono ou dona da câmera. Quem era? Qual nacionalidade? Apesar de ter comprado na China, a Pentax é uma marca japonesa. Quais cidades e países essa câmera já percorreu antes de parar em minhas mãos? Quais fotos e momentos ela presenciou? Quais pessoas que já passaram pelas suas lentes?
Sabe, existe uma certa mágica em uma câmera analógica antiga. Algo que eu não consigo colocar em palavras, mas que eu sinto quando eu olho no visor e me preparo para apertar o botão. Quando sinto a pressão no meu pescoço, por causa do peso da câmera, e eu vejo algo na rua, uma pessoa, um movimento e eu sei que preciso imortalizar aquele momento.
Nos momentos que eu estou com minha câmera, eu falo uma língua que não utiliza palavras e que não trabalha com o tempo. Nos momentos que eu estou com minha câmera, eu abro as janelas para uma versão diferente de mim voar e se expressar.
Eu me sinto viva.
Eu me sinto conectada.
Já foram muitos países, pessoas e lugares fotografados por mim: China, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Brasil, Argentina, Uruguai, Emirados Árabes Unidos, Inglaterra, França, Itália, Espanha, Portugal e mais.
Já também criei uma ponte entre o analógico e o digital, ao transformar uma foto minha preto e branco tirada em Nova York em minha primeira NFT, que foi escolhida para estar em uma galeria digital no Metaverso e que foi vendida. Já consegui ser paga por fazer o que eu amo, e ainda receber mensagens no privado do Instagram de alguém que pagou cerca de 500 dólares pela minha foto, para me dizer o quanto a minha foto mexeu com os sentimentos dele, e que ao ver a minha foto, ele sabia que ele queria ter aquele pedaço de arte em sua vida.
Vocês tem ideia do que é alguém chamar minhas fotos de arte e ainda pagar por elas?!
Ainda inacreditável.
As fotos abaixo, recebidas hoje, também falam de um recomeço. Ano passado perdi um HD externo com grande maioria dos arquivos digitais das minhas fotos analógicas antigas, e senti que parte de mim se perdeu. E então, resolvi recomeçar.
Ver os grãos nas fotos, as pequenas imperfeições e poder lembrar com nitidez o momento que cada foto foi tirada me faz feliz. Cada foto representa uma memória imortalizada em minha mente e divida com vocês em cada imagem.
Infelizmente a newsletter não permite (por causa do espaço) que eu coloque muitas fotos aqui, mas em breve vou compartilhar mais toda a coleção. Enquanto isso, espero que você goste de algumas das fotos tiradas em Paris que estão abaixo.
E espero que você encontre o seu canal de expressão e mostre ele pro mundo também.
Nem sempre precisamos nos comunicar só com palavras.
Ana eu amei demais essa carta, cameras analogicas fazem parte da minha história, amava quando saia com meus pais e eles tiravam várias fotos e eu nunca sabia o resultado e ficava tão animada para receber depois elas reveladas, era realmente mágico, pois tinha certos momentos que tinha esquecido.
A fotografia em si é muito importante em minha vida. Com um histórico longo de Alzheimer na minha familía eu tive uma conversa com uma tia um dia e ela disse que ama ver fotos antigas da familia pois elas contam histórias que meus avós não puderam contar pois não se lembram e isso me fez refletir bastante na probabilidade genética de futuramente eu ter essa doença, e quero deixa histórias para contar, não só atraves da escrita mas pela fotografia também, e cada dia que passa eu registro lindos momentos ( ainda não com minha camera analogica ja que perdi uma há muitos anos) mas momentos que estão eternizados em fotos e dentro de mim e que um dia alguém possa desfrutar vendo essas fotos das mesmas emoções que senti no momento que tirei.
Gratidão por compartilhar essa paixão que eu também compartilho <3
Desejo muito sucesso e quero poder acompanhar mais esse seu trabalho!