Escrevo essa carta de um dos meus cafés favoritos em Dubai, alguns momentos depois de algo muito peculiar acontecer - algo que novamente me mostra como seguir a nossa intuição pode nos levar a lugares e situações inusitadas.
Os últimos dias tem sido interessantes, para se dizer o mínimo.
Apesar de muita coisa já ter acontecido que não irá se transformar em cartas, hoje eu vou dividir alguns momentos que sem dúvida merecem espaço para pensarmos juntos. Sabe, há muito tempo eu já entendo a vida que eu quero construir e alguns dos momentos que eu ainda quero viver. Lembro claramente de ter escrito que eu queria viver uma vida onde eu pudesse ir no teatro, assistir apresentações de música clássica, Opera e Ballet. Uma vida em que em uma sexta-feira eu pudesse colocar um vestido legal, andasse em um ambiente exuberante e pudesse sentar para ouvir algum dos meus clássicos favoritos - e que isso fosse parte da minha vida, algo tão natural quanto ir no cinema.
Pois bem, nessa última sexta-feira eu pude fazer exatamente isso.
Eu vi que o Dubai Opera (o principal local de apresentações do tipo na cidade) estava com uma semana de apresentações de música clássica, e que ainda havia ingresso para assistir uma apresentação da Orquestra Filarmônica de Berlim em conjunto com um pianista renomado! Sem nem pensar muito, resolvi que iria até lá!
Acho importante dizer que o meu ingresso foi algo em torno de 180 reais, mas que apesar do valor razoavelmente acessível (quando pensamos numa Opera House em Dubai), percebo que muitas pessoas nem sequer cogitam a possibilidade de ir e participar de algo assim, mesmo cabendo no seu orçamento. Quase como se houvesse um véu, que separasse “o tipo de pessoa” que tem uma vida assim, das que não acessam esses locais e esses eventos.
Na minha mentoria, já comentei sobre a minha percepção sobre isso, e sobre como eu percebi na minha última viagem para Seoul que eu já tinha vivido isso também! Depois de ter me hospedado em um hotel incrível na área de Jamsil, percebi que ele era conectado com um shopping que eu ia com frequência. Mas, ele era conectado com uma parte do shopping um pouco mais “escondida". Ao caminhar por essa parte do shopping - que é cercada de lojas de alta costura - percebi que eu não ia para aquele canto porque eu sentia que aquele espaço não era “para pessoas como eu”, estudantes sem nenhum orçamento para aquilo. Fiquei pensando que apesar de realmente não poder comprar nada daquele canto do shopping, eu simplesmente nem me permitia andar por aqueles corredores, quase como se tudo aquilo nem existisse para mim. Estava totalmente fora do meu campo de visão!
Ao chegar no Dubai Opera, e me deparar com um ambiente daqueles, não posso mentir: me senti em casa. A sensação de viver isso, de me sentir adulta, e de realmente andar em ambientes que eu sempre quis andar me deu uma felicidade incrível. Eu sempre amei música clássica, e poder estar construindo uma vida que eu posso incorporar isso (ao vivo!), me dá a sensação de que estou indo na direção correta com minha vida.
Foi minha primeira vez assistindo um pianista, e eu não consegui esconder meu espanto. Ver os dedos dele passando pelas teclas com tanta agilidade e graciosidade realmente mexeu comigo. Poder ver, com meus próprios olhos, o resultado óbvio da dedicação de alguém é algo de tirar o fôlego. Não são todas as profissões que podemos testemunhar o resultado da construção de uma habilidade de maneira tão visível. Enquanto eu ouvia a música angelical que saia daqueles instrumentos, fiquei meditando profundamente sobre as escolhas de vida que levaram cada um daqueles músicos a estarem naquele palco, performando Tchaikovsky.
Com quantos anos eles decidiram que iriam aprender um instrumento?
O que levou eles a não desistirem disso?
Qual o nível de dedicação para que eles pudessem terem garantido seus lugares como músicos na orquestra de Berlin?
O que é viver uma vida em que seu trabalho é se preparar para estar em um palco?
Quais os desafios que eles enfrentaram para estar lá?
Será que eles pensavam: ser músico não dá dinheiro, vou ser pobre?
Seja quais forem as respostas, senti no meu coração que ver aquela cena era testemunhar pessoas vivendo seus sonhos. Em algum momento, cada um daqueles músicos sonhou em se apresentar em Opera Houses pelo mundo… e até no Oriente Médio, porque não?
E eu estava lá. Vendo com meus próprios olhos o resultado do esforço de cada uma daquelas pessoas, que com certeza tiveram de viver muito para estar lá - assim como eu.
Outro fato que vale a pena compartilhar é de que a orquestra tinha exatamente o mesmo número de músicos homem e mulheres. Todos os instrumentos tinham essa divisão, e quando eu percebi isso… eu sorri.
É assim que deveria ser. E naquela noite, era.
No dia seguinte, fui em uma balada bem conhecida de Dubai com alguns amigos (inclusive minhas 2 mentoradas - que estão trabalhando em Dubai como resultado da mentoria). Poder estar naquele local, que tinha uma vista para todo a skyline de Dubai e que fica localizado no estádio de corrida de cavalos - do qual eu fui há poucas semanas para a World Cup! - me tirou o fôlego. Depois de tantos anos morando fora e depois de já ter estado em tantos lugares, talvez eu já devesse ter me acostumado. Mas não, eu ainda tenho momentos que eu olho ao redor e sinto uma gratidão profunda de estar vivendo essa vida internacional - da qual eu sonhei por tantos anos.
Estava dançando com um grupo de pessoas do mundo inteiro. Passei a noite conversando com um amigo do Yemen, onde falamos de política, relações internacionais, merecimento e rosas no deserto. Em um momento específico, enquanto um remix de Sade tocava ao fundo, e vendo o prédio mais alto do mundo ao fundo, percebi que estava vivendo uma noite na Arábia versão futurista. Senti tanta gratidão, que fica até difícil conseguir expressar isso com palavras. Em uma conversa com uma amiga, comentei sobre uma verdade fundamental em minha vida e que ainda vou explicar em mais detalhes: só o amor é real.
Além disso, naquele dia mais cedo eu tive uma oportunidade única (que literalmente caiu no meu colo!). Dois dias antes, havia recebido um e-mail que o Sadhghuru estaria no Museu do Futuro, e por um acaso, eu recebi esse e-mail enquanto trabalhava de um café localizado no mesmo prédio! Poder estar em um dos prédios mais lindos e exuberantes do mundo para ouvir um mestre espiritual que eu gosto muito foi um verdadeiro privilégio.
Sadhguru está em Dubai como parte de sua turnê mundial focada na conscientização que estamos destruindo o solo no mundo, e que se continuarmos nesse caminho, em 40 anos teremos guerras civis causadas pela fome - já que os solos disponíveis para plantações estão cada vez mais escassos e menos eficientes. Os números divididos por ele me chocaram, e só fica mais claro (mais uma vez!) a importância dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, e as terríveis consequências se não fizermos nada para mudar nossa rota atual.
Tantos detalhes desse encontro ainda estão ecoando em mim. A começar com o fato de ao entrar na sala, ele parou, fez um exercício de respiração e simplesmente cantou um mantra. A movimentação de energia naquele ambiente foi algo que eu nunca tinha testemunhado na minha vida. O poder, mas ao mesmo tempo, a graça. Foi uma verdadeira masterclass da diferença entre poder e força.
Muitas coisas ditas por ele ressoaram de maneira tão profunda em mim. Fiquei rindo sozinha ao perceber a linguagem usada e como que minha visão sobre a vida está bem próxima da visão dele. Fiquei feliz também, por perceber que o que ele estava falando naquele momento era o que eu gosto tanto de aprender e falar na minha mentoria: desenvolvimento pessoal, entendimento de quem somos e da nossa missão em estarmos aqui.
A grande mensagem da fala dele, e que hoje eu compartilho com você é simples mas poderosa:
Quando nos identificamos com algo além do nosso corpo, nosso intelecto, nossas emoções… quando nos identificamos com quem somos de verdade, pura consciência, aí sim, somos capazes de abrir qualquer porta no universo.
Que você possa um dia sentir dentro de você que o limite é apenas uma ilusão.
E que dentro de você está a chave…
que abre qualquer porta.